Título: ONU: VENEZUELA E GUATEMALA PERTO DE ACORDO
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 26/10/2006, O Mundo, p. 32

Países podem retirar candidaturas ao Conselho de Segurança. República Dominicana seria indicada

NOVA YORK. Depois de 41 rodadas de votação, Venezuela e Guatemala finalmente estão perto de um acordo para retirar as candidaturas à cadeira da América Latina para o Conselho de Segurança da ONU, decisão que pode ser referendada hoje entre os ministros das Relações Exteriores dos dois países. Tudo depende agora de eles acertarem o nome de um terceiro país para assumir, durante dois anos, uma vaga rotativa do mais importante fórum da ONU.

O quase acordo foi anunciado pelo embaixador do Equador Diogo Cordobez, atual presidente do grupo dos países latino-americanos e do Caribe. Pelas negociações, a República Dominicana é o candidato mais forte até agora mas, se não der certo, Uruguai e Paraguai são alternativas em discussão.

¿ O Brasil não está entre os candidatos à vaga, a solução está sendo tentada entre os países pequenos e reconhecemos os direitos deles de participar do conselho. O Brasil não tem problema em votar no candidato que sair dessa negociação ¿ disse o embaixador brasileiro, Ronaldo Sardenberg.

A escolha de um terceiro candidato é tida pela Venezuela como vitória contra os EUA, que apoiou fortemente a Guatemala. Alguns diplomatas acham que a intenção do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, era tentar fazer da Bolívia um candidato de consenso, mas o presidente boliviano, Evo Morales, queimou a possibilidade ao anunciar na hora errada um acordo de bastidores com os venezuelanos. Chávez socorreu o aliado, dizendo que se sentiria muito bem representado pela Bolívia, mas o embaixador da Guatemala disse que não aceitaria.

Nova votação marcada para terça-feira

O representante da Venezuela na ONU negou que seu país tivesse desistido em favor da Bolívia e torpedeou a possibilidade de a Costa Rica sair como país de consenso, porque percebeu a indicação como uma manobra articulada pelos EUA.

¿ Os EUA jamais aceitariam a Bolívia. Não se trata de um desafeto tão claro quanto a Venezuela mas seria vista como um pau-mandado de Chávez ¿ disse um diplomata.

Ontem, em mais seis rodadas, o impasse se manteve e nova votação foi marcada para terça-feira. Mas se houver acordo, os 35 países do grupo latino-americano e do Caribe se reunirão imediatamente para referendar a decisão e a eleição pode ser antecipada para amanhã à tarde.

O placar pouco se mexeu nesses seis dias de votação realizada na ONU. A Guatemala venceu 41 dos 42 escrutínios mas não conseguiu os dois terços necessários para assumir a cadeira do Conselho de Segurança.

A pressão dos EUA a favor da Guatemala e contra a Venezuela é uma das causas do impasse. Um terço dos 192 países da Assembléia Geral vota com a Venezuela em protesto contra os americanos e a diplomacia de força que levam na ONU. Mas Chávez perdeu muito apoio por causa da cena protagonizada pelo líder populista, ridicularizando o presidente George W. Bush na abertura da Assembléia Geral em setembro. Ele ganhou as manchetes ao dizer que ¿ainda sentia o cheiro de enxofre¿ deixado pela passagem de Bush pelo plenário na véspera, mas perdeu votos de países africanos e árabes, incomodados com a falta de compostura.