Título: Plano do PT prevê privatização
Autor: Tatiana Farah e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 27/10/2006, O País, p. 3

Programa de Lula para transportes diz que fará concessão de rodovias à iniciativa privada

No plano de governo para o segundo mandato de Lula para o setor de transportes lançado ontem, os petistas abrem mais espaço para concessões de rodovias federais e para a participação da iniciativa privada por meio das chamadas PPPs (Parcerias Público Privadas). No documento, disponível no site do PT, as PPPs surgem como uma das bases para a recuperação e a modernização do sistema de transportes brasileiro. Os altos pedágios e o que o PT chamou de DNA privatista dos tucanos estão entre as principais críticas da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB).

- A crítica do PT é à maneira como a concessão foi feita em São Paulo e durante o governo de Fernando Henrique, dando às empresas as rodovias mais lucrativas - disse um dos coordenadores do programa de governo petista, Valter Pomar.

O petista afirmou que há diferenças na forma de lidar com a iniciativa privada entre os dois candidatos e que as concessões de rodovias são feitas de modos diferentes:

- A concepção geral (dos tucanos) é que está errada.

As PPPs têm sido uma bandeira do governo Lula, que lançou um projeto nacional em 2004 prevendo a participação da iniciativa privada na construção e recuperação de sete rodovias, nove ferrovias e três portos. As PPPs são parcerias entre o poder público e a iniciativa privada para investimentos de infra-estrutura e gestão compartilhada.

No documento divulgado ontem em São Paulo, a campanha diz que dará prosseguimento, num possível segundo mandato de Lula, ao plano de concessões rodoviárias. Este é um dos pontos para a melhoria do setor rodoviário: "dar continuidade ao Programa de Concessões Rodoviárias para rodovias de alto volume de tráfego".

Depois de ter embarcado no debate provocado pelos adversários sobre privatizações, o comando de campanha presidencial do PSDB reagiu ao plano de concessão do PT.

- Isso mostra que o PT faz terrorismo como ninguém e tem um discurso terrorista - argumentou o coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que diz concordar com a política de concessões.

"É uma rigorosa contradição"

O responsável pelo programa de governo tucano, João Carlos Meirelles, também disse ter se surpreendido com o plano do adversário.

- É uma rigorosa contradição de tudo o que eles nos criticam. Mas, se por um lado é contradição, por outro mostra o bom senso. Na concessão, você permite que a empresa invista e é obrigada a obedecer às contrapartidas, mas depois a rodovia volta para as mãos do Estado - disse Meirelles.

O programa de governo, o PT faz um balanço da gestão Lula e elenca a herança deixada pelo ex-presidente Fernando Henrique. Faz uma crítica dura às privatizações e à transferência de responsabilidade do setor público para o privado, medidas iniciadas no governo de Itamar Franco e que prosseguiram no governo tucano.

Segundo os petistas, os governos anteriores "deixaram uma estrutura precária" e, agora, as PPPs se tornam essenciais, "deverão ser a base para a implementação de projetos de envergadura".

O projeto petista estabelece obras prioritárias no sistema de transportes. Entre elas está a construção do já anunciado Arco Rodoviário do Rio, conectando a Via Dutra, a BR 040 e a BR 101 (Rio Santos). Também estão previstas duplicações rodoviárias nas BRs 101, 050, 060, 040, 381 e 153 e a ampliação dos contratos de recuperação da malha viária.

O QUE LULA JÁ DISSE SOBRE PRIVATIZAÇÕES

EM ENTREVISTA AO GLOBO EM 11 DE OUTUBRO: "Eu não teria privatizado a Vale (do Rio Doce) e nem as teles (...). Não teria e não vou privatizar nenhuma"

EM COMÍCIO NO RS EM 21 DE OUTUBRO:"Quando a gente fala que eles podem privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, eles ficam nervosos e nos chamam de terroristas. Mas quem foi que passou oito anos privatizando tudo?"

NO DEBATE DO SBT, EM 19 DE OUTUBRO: "Tudo foi privatizado. A dívida aumentou. O Brasil quase quebrou. Porque tanto o PSDB fez a nível nacional quanto ele (Alckmin) a nível local"

NO PRIMEIRO COMÍCIO DO SEGUNDO TURNO, EM 12 DE OUTUBRO: "Querem vender o restante das coisas que não venderam no passado, porque eles nunca trabalharam e agora querem vender o que tem. Eles querem dividir o país entre pobres e ricos."