Título: Economistas: Lula se favoreceu de 'falsos problemas'
Autor: Fellipe Awi
Fonte: O Globo, 27/10/2006, O País, p. 5

Para especialistas, petista superou tucano ao levar para 2º turno debate sobre política econômica e privatizações

CAXAMBU (MG). Menos por um duelo de idéias do que por uma hábil estratégia do PT, o debate sobre política econômica e privatizações no segundo turno foi mais favorável ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, do que ao tucano Geraldo Alckmin, disseram economistas participantes do 30º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais). Segundo eles, o petista ganhou votos ao priorizar temas como a privatização, incluída no que foi chamado de "falsos problemas" pelo economista Eduardo Kugelmas, da USP, uma vez que é um ponto praticamente convergente dos dois modelos de governo.

- É falso porque nenhum dos dois candidatos pensa em privatizar empresas como Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras. Isso está sendo usado de forma demagógica porque ainda existe no Brasil a cultura de um Estado protetor. As discussões sobre o corte de gastos também são pouco produtivas porque são tratadas de forma superficial, os dois evitam falar em temas mais espinhosos, como a reforma da Previdência - disse Kugelmas.

Na área econômica, debate eleitoral aquém do esperado

A economista Eli Diniz, da UFRJ, também disse que, embora tenham sido colocados no centro da discussão sobre a política econômica nos próximos quatro anos, a privatização e o controle de gastos são temas em que petistas e tucanos estão mais em acordo que em desacordo. Isso fez com que o debate eleitoral ficasse aquém do esperado na área econômica, deixando de fora da pauta questões cruciais para o crescimento do país.

- O argumento da privatização é de campanha eleitoral. Poderiam ter ficado mais claras as diferenças entre os governos do PT e do PSDB, principalmente nas políticas sociais e na política externa. Até o governo Lula, a Alca parecia inevitável - disse ela, que participou junto com Kugelmas de uma mesa-redonda chamada "Desenvolvimento revisitado".

Eli Diniz afirmou que os dois candidatos falaram pouco sobre as alternativas para o desenvolvimento sustentado do país, que precisa vir acompanhado de uma política de educação mais eficiente.

- Nos últimos anos houve um avanço no acesso às escolas, mas precisamos agora que a qualidade do ensino seja melhorada - explicou.

Ruben Tapia: diferença pouco evidente, mas não irrelevante

O professor Jorge Ruben Tapia, do Instituto de Economia da Unicamp, afirmou que o debate econômico foi pouco nítido para o eleitor não só porque o PT trouxe questões como a privatização, "que no PSDB só foi defendida com veemência pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", mas também porque as diferenças entre os dois modelos são pouco evidentes, "embora não sejam irrelevantes".

- Era fundamental debater como o desenvolvimento do país vai ser financiado. O governo fala de parcerias público privadas, enquanto na agenda do PSBD parece prosperar a idéia do superávit primário e do déficit nominal zero - disse Tapia, que participou de uma mesa sobre "Desenvolvimento e organizações de interesse", ontem, na Anpocs.

Seja qual for o resultado das eleições, o economista considera pouco propícias as condições econômicas para que o país cresça 5% no ano que vem, como prevê o governo.

- É diferente para o país crescer 3% em vez de 5%, mas também faz diferença crescer dando uma certa atenção às camadas menos favorecidas - concluiu.

www.oglobo.com.br/pais/eleicoes2006

Nenhum dos dois candidatos pensa em privatizar empresas como o Banco do Brasil, Caixa Econômica e Petrobras. Isso está sendo usado de forma demagógica.

EDUARDO KUGELMAS

Poderiam ter ficado mais claras as diferenças entre os governos do PT e do PSDB, principalmente nas políticas sociais e na política externa.

ELI DINIZ