Título: Alckmin atribui dificuldades a fatores externos
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 27/10/2006, O País, p. 12
Tucano diz que atraso no horário eleitoral e ministros que viraram cabos eleitorais prejudicaram sua campanha
SÃO PAULO. A três dias das eleições, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, atribuiu ontem a sua dificuldade em avançar nas pesquisas de intenção de votos a fatores que fugiriam à responsabilidade de sua campanha. Para ele, o atraso de 12 dias para início do horário eleitoral gratuito, as viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquanto ele não havia se desincompatibilizado do governo paulista e o fato de ministros terem se transformado em "cabos eleitorais" prejudicaram sua caminhada para o segundo turno.
Embora com um discurso de que "a pesquisa que vale é a da urna", Alckmin admitiu que o comando da campanha deveria ter se empenhado para que os programas gratuitos no rádio e na TV começassem a ir ao ar logo após o primeiro turno.
- Na medida que ficamos 12 dias sem programa na televisão, é claro que prejudica - disse ele, em sabatina no jornal "O Estado de S.Paulo".
Garotinho e privatizações, fatos cruciais
Dentro do partido há quem avalie que o apoio público - incluindo foto - do ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o fato de o PSDB ter embarcado no discurso do PT contra as privatizações foram cruciais para a campanha tucana.
Cerca de 20 pontos percentuais atrás de Lula, segundo pesquisas recentes, Alckmin disse que a vantagem do presidente pode ser explicada porque sua campanha teria começado antes da dele.
- Tive que deixar o cargo (de governador) em março e o meu adversário continuou presidente, utilizando a máquina pública. Não bastasse, os ministros dele viraram cabos eleitorais - argumentou.
Sobre uma das discussões que imperam em seu partido, de que a oposição deveria trabalhar pela impugnação da candidatura de Lula ou mesmo por um pedido de impeachment contra o presidente, o candidato foi diplomático:
- O PSDB agiu com coragem, mas a questão do impeachment é uma questão política, e não jurídica - disse ele, evitando polemizar com aliados, como o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que apontou o encarregado da propaganda na TV, o publicitário Luiz Gonzalez, como responsável por uma possível derrota no segundo turno. - Essa é uma avaliação pessoal e cada um tem direito de expressar suas opiniões. Mas a campanha está caminhando bem e o que vale é a eleição das urnas.
Na sabatina, perguntado se acabaria a eleição devendo mais a Aécio Neves ou a José Serra pelo apoio, saiu pela tangente:
- Tenho uma dívida de gratidão com o povo brasileiro.
Um dia depois de dividir em São Paulo o palanque no último comício de campanha com o ex-presidente Fernando Henrique, Alckmin disse que falhas no governo anterior não prejudicaram sua candidatura. Disse que tem muito honra de estar no mesmo partido do ex-presidente, mas admitiu que a carga tributária que já era alta, piorou no governo Lula e criticou que nenhum governo federal (incluindo o de FH) conseguiu duplicar a rodovia Régis Bittencourt.
Sobre o tom agressivo que adotou nas últimas semanas, principalmente no debate da TV Bandeirantes, o tucano brincou com a comparação com o pugilista Mike Tyson.
- Imagina, no máximo cheguei à faixa amarela do judô.
O candidato ainda criticou quem usa no carro o adesivo com a mão sem o dedo mínimo, numa referência a Lula:
- Isso é uma baixaria.
Duelo final hoje, na Globo
Lula e Alckmin têm último debate
Hoje à noite, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin têm o último encontro antes de se enfrentarem nas urnas do segundo turno. Será no Projac, estúdio da Rede Globo em Jacarepaguá, o derradeiro debate entre os candidatos à Presidência da República. O duelo, com mediação de William Bonner, começa às 22h e terá cinco blocos.
O debate será feito em uma arena. Os candidatos poderão circular à vontade. Um pequeno monitor, com tela sensível ao toque, vai selecionar perguntas de eleitores que ainda não sabem em quem vão votar para presidente.
Os 80 indecisos, selecionados pelo Ibope em todo o país, vão se sentar em arquibancadas à direita e à esquerda do mediador. E 12 deles farão perguntas, que serão transmitidas por um telão. A participação dos eleitores indecisos ocupará três blocos do debate, quando todas as perguntas serão feitas por eles. No quarto e último bloco, os candidatos farão perguntas entre si e, também, as considerações finais.
A CBN transmitirá o programa em rede com a Globo. O portal G1 (www.g1.com.br) também exibirá o evento na íntegra, numa cobertura que começará logo após a exibição do "Jornal Nacional". Um blog será atualizado direto do estúdio, revelando os bastidores que a câmera da TV não mostra. Haverá ainda análises dos senadores Eduardo Suplicy (PT) e Álvaro Dias (PSDB) e dos deputados eleitos José Eduardo Cardozo (PT) e Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB).
No penúltimo programa eleitoral de TV, Lula e Alckmin se cercaram de mulheres. O petista exibiu depoimentos da primeira-dama Marisa Letícia, da ex-prefeita Marta Suplicy e da filósofa Marilena Chauí e de Manuela D´Ávila (PCdoB), a Manu, de 26 anos, a deputada mais votada do Rio Grande do Sul.
Já Alckmin abriu seu programa com o depoimento de uma mulher:
- Aqui em casa a gente ensina nossos filhos a não roubar e a não mentir - disse uma dona-de-casa.
O tucano também dedicou espaço para a mulher, Lu Alckmin, apresentar o programa "Padarias Artesanais", pelo qual donas-de-casa recebem crédito para montar o próprio negócio.