Título: Laranja diz que entregou R$250 mil a Lacerda
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 27/10/2006, O País, p. 13

Funcionário de empresa de eventos admite que foi a São Paulo entregar parte do dinheiro apreendido com petistas

BRASÍLIA. Agnaldo Henrique de Lima, funcionário de uma empresa de eventos de Pouso Alegre, Minas Gerais, depôs ontem na Polícia Federal em Varginha (MG) e afirmou ter sido usado como laranja e emprestado sua conta bancária para o depósito de parte dos recursos apreendidos em São Paulo com petistas. Ele disse que foi a São Paulo entregar R$250 mil em espécie a Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.

Em gravação veiculada pelo "Jornal do SBT", Agnaldo disse que emprestou sua conta bancária para seu patrão, Luiz Armando Silvestre Ramos, fazer o depósito e depois dois saques no total de R$250 mil. Ele teria acompanhado o patrão na viagem a São Paulo, quando entregou dinheiro ao homem que estava "num carrão bonito" acompanhado de segurança.

- Eu saquei o dinheiro e mais um cheque que ele (o patrão) pediu para eu descontar. Eu assinei atrás do cheque, entreguei para o gerente que pediu para eu voltar mais tarde, pois ele precisava juntar o dinheiro - afirmou Agnaldo, acrescentando que só identificou a pessoa para quem teria entregue quando o escândalo do dossiê veio a público. Hamilton já está sendo investigado pela PF de São Paulo. De acordo com o SBT, a PF apura o caso em Pouso Alegre e ontem policiais foram à agência onde Agnaldo afirmou ter feito os saques. Os agentes não confirmaram, segundo a emissora, se os saques ocorreram ou sequer se a conta existe.

Recepcionista diz que foi ameaçada

Em outra frente de investigação, a recepcionista da Pousada Ouro Preto Viviane Gomes da Silva fez revelações que comprometem os donos da casa de câmbio Vicatur, de Nova Iguaçu, investigada no caso dos dólares usados para compra do dossiê contra tucanos. Viviane contou que donos da Vicatur ofereceram vantagens financeiras e até um bom advogado se ela assumisse a responsabilidade pela compra de US$284,8 mil vendidos pela corretora mês passado. O objetivo seria manter em segredo o verdadeiro dono dos dólares.

Ontem, o delegado da PF Diógenes Curado indiciou os empresários Fernando Manoel Ribas Soares e Sirley da Silva Chaves, donos da Vicatur, por falsificação de documentos e uso indevido de identidade de outras pessoas. Os crimes prevêem penas de até dez anos de prisão. Ribas e Sirley são acusados de usar o nome de pessoas de Minas e do Rio para esconder a identidade do comprador de US$284, 3 mil. No interrogatório, os dois confessaram ter pago R$3 mil para usar os dados cadastrais de Viviane e parentes dela. Os dois se recusaram, no entanto, a revelar o nome do comprador dos dólares.

Viviane contou que recusou a oferta de assumir o saque dos dólares diante da forte repercussão do caso. Desde então, teria recebido ameaças. Ela aparece nas fichas de controle da Vicatur como a compradora de US$ 44,3 mil, uma das parcelas dos US$284,8 mil vendidos ao suposto arrecadador do dinheiro do dossiê. Em depoimento à PF, Viviane declarou que não é a dona do dinheiro, comprado no dia 21 de agosto, e até deu os nomes de seis familiares arrebanhados pela Vicatur na operação de camuflagem da venda dos dólares. Os donos da Vicatur poderão ser acusados de coação de testemunhas e obstrução das investigações.

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