Título: Cabral e Frossard exibem ofensas e irritação na TV
Autor: Paula Autran/Maiá Menezes/Cássio Bruno/Valéria Man
Fonte: O Globo, 27/10/2006, O País, p. 15

Senador repete estratégia de perguntas técnicas e chama adversária de despreparada; ela se irrita e o chama de oportunista

A troca de ofensas e a irritação marcaram o último round da disputa pelo governo do estado. O clima entre os candidatos Sérgio Cabral (PMDB) e Denise Frossard (PPS), no debate de ontem à noite na TV Globo, azedou logo no primeiro bloco. Ele chamou a adversária de leviana, despreparada, desinformada. Ela o chamou de oportunista, explorando também a ligação com o casal Garotinho. Depois de cumprimentar friamente o adversário, Frossard provocou Cabral na primeira oportunidade, ao perguntar o que fará em relação ao "bico" de policiais civis e militares. Cabral afirmou que o bico vai acabar quando ele implementar políticas de recuperação salarial. E foi atacado pela adversária:

- O senhor, para justificar a compra de sua casa em Mangaratiba, na Costa Verde, disse que fazia um bico. Disse que trabalhava na BR Comunicação, empresa que presta serviço ao governo. Insisto: que autoridade o senhor tem para condenar bico se fez um?

"Assim eu perco a paciência"

Cabral, irritado, devolveu o tom, criticando projeto de lei apresentado pela deputada que proíbe confissões de réus na frente de delegados:

- Eu até me animei, achando que a deputada trataria de temas relevantes. Minhas declarações de renda estão no TRE. A deputada apresentou dois projetos como deputada, sobre segurança. Um deles proíbe confissão na frente do delegado, só na frente do juiz. É o único projeto que ela apresentou - atacou Cabral.

O peemedebista repetiu a estratégia do último debate, quando fez perguntas técnicas à adversária. A tática voltou a irritar a deputada, que fugiu das respostas mais específicas sobre programa de governo. Na resposta a uma pergunta sobre o impacto do investimento de R$2 bilhões anunciado pelo governo federal para uma nova usina nuclear em Angra dos Reis, Frossard se irritou:

- Estou com o pé na terra. Assim eu perco a paciência. O que vamos fazer com 44.947 pessoas assassinadas no estado de 1998 para cá?. O que é isso? Vamos descer à terra. Vamos governar o estado mais violento do país - disse a deputada, que preferiu criticar a atuação da Ampla, concessionária de energia elétrica, do que responder à pergunta sobre investimentos federais na área nuclear.

- Ela foge ao tema porque não conhece ao tema. A deputada não tem programa de governo - reagiu Cabral.

Cabral: "que baixo astral"

Ao responder a uma pergunta de Cabral sobre as políticas para pequeno e micro empresários, Frossard mais uma vez atacou o adversário:

- O senhor quer criar 700 mil empregos. Se o senhor promete 700 mil em quatro anos, seriam 83.765 empregos ano, ou seja, teria que dobrar a média anual, mas o Rio vem caindo no índice de emprego com carteira por causa do número de pessoas assassinadas. Empresários vão embora, e já declararam isso, porque não vão investir num estado que tem tanta violência. O senhor acha que pode dizer tudo, sem consistência, dessa forma? - disse ela.

O peemedebista suspirou e usou uma frase que repetiria no confronto:

- Que baixo astral, meu Deus do céu. A nossa proposta é prestigiar o micro e pequenos empresários e trazer empreendedores informais para a formalidade. Vamos parar com esse baixo astral - disse Cabral, que corrigiu uma informação dada pela adversária:

- A senhora disse que o Porto de Itaguaí está parado. É mentira. Não está.

Frossard retrucava às perguntas específicas sobre temas como economia, emprego e energia afirmando que não há questão mais importante no estado do que a segurança pública.

- Enquanto não cuidar da violência, o resto é perfumaria - afirmou Frossard.

- Estou extasiado com a deputada, que demonstra uma falta de conhecimento sobre a situação do estado - devolveu Cabral, que mais tarde a acusou até de desconhecer os estados que fazem divisa com o Rio (ele, erradamente, usou fronteira).

Ao tratar de saúde, a deputada reconheceu que só conheceu os hospitais estaduais na campanha eleitoral. Ela provocou Cabral, perguntando há quanto tempo ele conhecia a realidade da rede pública estadual.

- O senhor diz que conhece o estado, cita problemas. Eu estou há pouco tempo na política, eu vim para mudar e tirar dela pessoas que ganham dinheiro com a política. Há quanto tempo o senhor conhece a realidade dos hospitais? Vejam o que o governo dele fez com os hospitais, não tem nada, soro, oxigênio, nada. O governo Garotinho entregou a direção dos hospitais aos aliados e o senhor não fiscalizou. Paga três vezes mais para terceirizados do que para concursados - disse Frossard.

"A deputada só sabe atacar"

Cabral devolveu o ataque, ressaltando a falta de informações da deputada sobre a situação do estado. Ele provocou a adversária, afirmando que vai procurar pelo prefeito Cesar Maia - aliado político de Frossard - caso vença:

- A deputada só sabe atacar, só agora conheceu a rede hospitalar. Não conhece os assuntos do estado, nem tem compromisso sequer com a rede municipal. Não sou de ficar denunciando, vou dar as mãos ao prefeito Cesar Maia.

Frossard, irritada, lembrou da intervenção federal no estado. Sobrou para o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT):

- A saúde da cidade sofreu intervenção do ministro sanguessuga, senador. Depois tratamos disso...

Outro tema de bate-boca foi a Cedae. Frossard perguntou a Cabral se o senador fará auditoria na estatal, caso seja eleito, para identificar os malefícios causados pela politização do órgão, citando o deputado Eduardo Cunha (PMDB).

- Evidente que vou fazer auditoria em todas as áreas do estado - respondeu Cabral.

Ele acusou Frossard de tratar o eleitor de forma desrespeitosa, por não estar preparada para o debate, disse:

- Faltando três dias, a deputada lê uma resposta para falar que vai fazer uma auditoria externa na Cedae. Vamos fazer auditoria em todas as secretarias. Tenho compromisso com a eficiência, não tenho rabo preso com ninguém.

Cabral foi assessorado pelo coordenador do programa de TV, Renato Pereira, e por seu tesoureiro de campanha, Regis Fitchner. Já Denise Frossard recebeu orientações dos assessores Marcelo Maia e Jackson Vasconcelos.

A platéia pró-Cabral, eclética, reuniu políticos como o senador eleito Francisco Dornelles, a ex-governadora Benedita da Silva e os prefeitos de Niterói, Godofredo Pinto, e de Duque de Caxias, Washington Reis. Com Frossard, foram o candidato a vice, Eider Dantas, o deputado estadual Comte Bittencourt e o presidente regional do PV, Alfredo Sirkis.

* do Extra

O que vamos fazer com 44.947 pessoas assassinadas no estado de 1998 para cá? Vamos governar o estado mais violento da federação

DENISE FROSSARD

Que baixo astral, meu Deus do céu. A nossa proposta é prestigiar o micro e pequenos empresários e trazer empreendedores informais para a formalidade

SÉRGIO CABRAL

Minha proposta é muito clara: aumento de salário. Para justificar a compra de sua casa em Mangaratiba, ele disse que fazia um bico para a BR Comunicação, empresa que presta serviço ao governo. Insisto: que autoridade o senhor tem para condenar bico se fez um?

DENISE FROSSARD

Minhas declarações de renda estão no TRE.. A deputada apresentou dois projetos como deputada, sobre segurançaa. Um deles proíbe confissão na frente do delegado, só na frente do juiz. É o unico projeto que ela apresentou

SÉRGIO CABRAL

Estou extasiado com a deputada que demonstra falta de conhecimento sobre a situação do estado e sobre o meu mandato

SÉRGIO CABRAL