Título: CNBB: 'O país está corroído pelos escândalos'
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 27/10/2006, O País, p. 16

Entidade critica troca de acusações entre Lula e Alckmin e diz que debate sobre ética não ajudou eleitor a decidir o voto

BRASÍLIA. A CNBB fez duras críticas ontem aos candidatos à sucessão presidencial Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), acusando-os de protagonizarem uma campanha pobre em propostas e marcada pela troca de acusações. Após a reunião mensal do conselho permanente da entidade, o presidente da CNBB, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, fez um diagnóstico desolador das instituições públicas brasileiras, sem citar especificamente nenhum governo.

- O país está corroído pelos escândalos - disse dom Geraldo.

O presidente da CNBB afirmou também que o debate da ética dominou a campanha eleitoral, o que, em sua visão, não contribuiu para que o eleitor fizesse sua escolha:

- Lula e Alckmin ficavam discutindo quem tem mais ou menos ética. Eles só esqueceram que ter ética não é mais do que obrigação de qualquer político.

O vice-presidente da entidade, Dom Antonio Celso de Queirós, foi ainda mais incisivo ao comentar a campanha presidencial. Ele disse que não gastou o seu tempo assistindo os debates entre Lula e Alckmin:

- Não houve discussão do que queríamos, do que achamos que realmente importa para o povo. Só houve bate-boca. O nível dos debates foi muito pobre - criticou.

Papa vem ao Brasil em maio do próximo ano

Apesar de fazer elogios ao programa Bolsa-Família, dom Antonio Celso também se disse decepcionado com o comportamento do PT e do presidente Lula nos últimos quatro anos.

- Não resta dúvida: o PT e o Lula se afastaram dos movimentos sociais - afirmou dom Antonio Celso. - O encaminhamento da economia nos últimos quatro anos foi igual àquela feita no governo anterior.

O vice-presidente da CNBB criticou especificamente a reforma agrária, que considera muito lenta:

- No país, a reforma agrária só é feita aos poucos. Parece que estão esperando os moradores do campo morreram antes de começarem a reforma agrária de verdade.

A entrevista coletiva também serviu para a confirmação da visita do Papa Bento XVI ao Brasil, em maio do próximo ano. Segundo a CNBB, o pontífice celebrará missa em Aparecida, em São Paulo, no dia 13, quando é celebrado o Dia de Nossa Senhora de Fátima.

A programação completa do Papa Bento XVI no país só será definida em janeiro, mas a entidade informou que ela não será tão extensa quanto a última visita feita pelo Papa João Paulo II.

Só houve bate-boca. O nível dos debates foi muito pobre

DOM ANTONIO CELSO DE QUEIRÓS

Eles (Lula e Alckmin) só esqueceram que ter ética não é mais do que obrigação de qualquer político

DOM GERALDO MAJELLA

No país, a reforma agrária só é feita aos poucos. Parece que estão esperando os moradores do campo morrerem antes de começarem a reforma agrária de verdade

DOM ANTONIO CELSO DE QUEIRÓS