Título: MERCADO ESPERA NOVO CORTE DE 0,5 PONTO NOS JUROS
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 27/10/2006, Economia, p. 33

Tom otimista da ata da última reunião do Copom leva analistas a revisarem projeção de redução da Selic em novembro

BRASÍLIA. O tom mais otimista da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem - inflação cada vez menor e ausência de focos de pressão sobre a atividade econômica - levou o mercado a apostar que, na próxima reunião do colegiado, em novembro, o Banco Central (BC) vai cortar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, mantendo o ritmo dos últimos quatro encontros. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano, menor patamar histórico. Esta semana, o relatório Focus, preparado pelo BC com base em pesquisa com cem instituições financeiras, ainda mostrava que os analistas esperavam redução de 0,25 ponto no mês que vem.

A mudança, apontam os especialistas, deve-se ao fato de a autoridade monetária ter revisado para baixo algumas estimativas de inflação, sobretudo de olho em 2007. Para os preços administrados em geral (definidos por contratos), o BC passou a previsão de aumento de 6,1% para 5,4% no próximo ano, mantendo os 4,4% esperados em 2006. O mercado também reforçou a idéia de que o ciclo de queda dos juros continuará no primeiro trimestre de 2007.

- A ata veio um pouco mais otimista que a anterior, apesar de muito parecida. O BC fez ajustes importantes nos preços administrados, mais perto do que vê o mercado - avalia a economista-chefe da Mellon Global Investment, Solange Srour, para quem o BC vai manter o ritmo de corte a curto prazo.

O BC também reduziu bastante a previsão de haver reajuste de preços da gasolina neste ano, uma vez que a cotação internacional do petróleo cedeu nos últimos meses. Além disso, o BC manteve a projeção de alta de 0,1% de preços do gás de botijão no período e fez uma análise mais positiva do cenário internacional em geral, com a economia americana menos pressionada.

No documento, o BC voltou a informar que ainda não consegue mensurar com precisão os impactos das reduções da Selic desde setembro de 2005, de seis pontos percentuais, reafirmando que poderá ter "maior parcimônia" daqui para frente.

Texto dá menos destaque a aumento nos gastos públicos

Na avaliação do economista-chefe da corretora Fator, Vladimir Caramaschi, essas colocações servem para deixar espaço para o BC diminuir o ritmo caso aconteça alguma surpresa.

- Falar em maior parcimônia perdeu a força. A expressão veio nas últimas três atas - lembra ele, que revisará suas estimativas de corte na próxima reunião de 0,25 para 0,50 ponto.

Uma indicação dada pela ata de que o BC não está privilegiando a parcimônia é que a autoridade monetária não vê aceleração forte da produção nacional devido ao crescimento expressivo das importações. Portanto, a capacidade instalada da indústria continua sendo capaz de atender ao ritmo de expansão da economia, para o BC. Sem problemas de oferta, não há pressão sobre os preços.

O BC voltou a tocar na situação fiscal do país, mas com menos veemência. Para o Copom, com o aumento do emprego e da renda, os maiores gastos públicos neste ano ajudam na expansão da atividade econômica e devem ser observados. Na ata de outubro, o comitê chegou a escrever que eram "esperados para o restante deste ano" mais impulsos fiscais, expressão não usada agora.

- A questão fiscal saiu do foco. Há a expectativa de que as contas melhorem em outubro - diz a economista-chefe da corretora Bes, Sandra Utsumi, que revisou de 0,25 para 0,5 ponto a projeção para a próxima reunião.