Título: VOLTADOS PARA O PASSADO
Autor: Maia Menezes, Paula Autran e Bernardo Mello Franco
Fonte: O Globo, 28/10/2006, O País, p. 3

Lula e Alckmin trocam acusações sobre gestões petistas e tucanas e dão poucas soluções

Mesmo submetidos a uma sabatina de eleitores indecisos, interessados em debater questões específicas de programas de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, e seu adversário, o tucano Geraldo Alckmin, encontraram brechas para trocar acusações, no último embate do segundo turno das eleições, na TV Globo. Mas os dois se limitaram a fazer promessas e atacar o passado, sem apresentar soluções concretas. Nas respostas, Alckmin criticava o governo Lula. E o presidente devolvia, censurando a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso.

As regras do debate, feito em uma arena, permitiram que os candidatos circulassem à vontade pelo estúdio. Doze eleitores indecisos, selecionados pelo Ibope, fizeram perguntas, nos três primeiros blocos. Na primeira, em que o eleitor queria saber as propostas do candidato para educação, Alckmin criticou o atual governo, por não ter aprovado o Fundeb. Lula reagiu, reconhecendo que o setor ainda está longe do ideal. Mas disse que a responsabilidade é de seus antecessores.

¿ A educação no Brasil não está de boa qualidade. É uma responsabilidade histórica. Não de um ou dois governos ¿ afirmou o presidente.

Ataques e ironias no confronto

O tucano seguiu a cartilha e permaneceu no tom crítico:

¿ A gente fica triste ao saber que há 2,5 milhões de crianças fora da escola no ensino fundamental. Fora o ensino infantil, que precisa ser universalizado. O trabalho infantil dobrou. Criança não é para trabalhar ¿ afirmou Alckmin, que provocou em Lula a primeira demonstração de ironia:

¿ Debate é bom porque cada um fala o que quer, do jeito que quer. Vou dizer o que foi feito nos último quatro anos. Criamos 48 extensões universitárias. E quatro universidades ¿ reagiu o petista.

Alckmin, então, acusou Lula de ter criado universidades ¿às vésperas das eleições¿.

A discussão sobre a Previdência, em resposta à pergunta de outro eleitor, voltou a causar rusga entre os adversários. Alckmin afirmou que o Brasil vem crescendo pouco. ¿Menos que o Uruguai, o Paraguai e a Bolívia¿ e que mais da metade dos trabalhadores estão na economia informal.

¿ As pessoas nem sempre medem as palavras. O meu adversário fala como se nunca (os tucanos) tivessem governado o Brasil ¿ disse Lula, fazendo, mais uma vez, referência ao governo Fernando Henrique.

O presidente afirmou que a Previdência tem hoje uma ¿cobertura extraordinária¿. Ele afirmou que, caso seja reeleito, vai conseguir acabar com o déficit da Previdência. Já Alckmin afirmou que vai diminuir os encargos sobre a folha de pagamento, ¿para gerar mais empregos¿.

¿ Por que o senhor deu R$9 bilhões para os aposentados de um fundo de pensão de uma estatal e vetou o aumento para os aposentados do INSS? ¿ provocou o tucano.

Lula respondeu, citando o nome do fundo de pensão. E afirmou que a Previdência viveu bons tempos em outros momentos do país porque o número de beneficiários era menor.

¿ O fundo é o Petrus. Os trabalhadores da Petrobras negociaram pelo aumento. Houve um tempo em que a Previdência tinha muito dinheiro. A Transamazônica e a ponte Rio-Niterói foram construídas com o dinheiro da Previdência.

Ao falar sobre saúde, Alckmin disse que a assistência farmacêutica faz parte do SUS:

¿ Trabalhei como médico em hospital público e como médico em Pinda. O povo está sofrendo com a questão da saúde. Crise na Santa Casa em Manaus. Aqui no Rio temos um quadro muito grave de saúde, saúde deteriorada. Ano passado o governo federal arrecadou R$30 bi só com a CPMF. Quando cai qualquer débito na conta, está pagando. A gente vê o povo sofrendo.

Lula reagiu:

¿ No meu governo, passamos de R$1 para R$3,75 para que possa dar remédio de graça.

¿ Não está em discussão aqui o governo de São Paulo. Mas é importante destacar. Fizemos 19 hospitais. O candidato Lula disse que a saúde está chegando à beira da perfeição. Eu vejo diferente. Está muito ruim. A saúde foi sucateada. O genérico regrediu. Outro dia eu vi o presidente dizendo que vendia mais barato insulina. Meu compromisso é trabalhar pra valer para recuperar a saúde ¿ respondeu Alckmin.

Lula afirmou que estados e prefeituras recebem repasses de recursos do governo federal:

¿ Alckmin não percebe que os diabéticos precisam desses recursos. Ele diz que piorou, mas ele não diz como era quando eles governaram.

Alckmin reagiu:

¿ Arrecadou R$30 bi. Desperdício, sanguessugas. Eles pagam R$2 por uma consulta para tratar de uma criança. Essa é a saúde no Brasil, que está ótima. Equipamentos atrasados. A Constituição é clara. Saúde é direito do cidadão. É vida.

O eleitor Manoel Berto perguntou aos dois sobre plano de governo para saneamento, dizendo que já teve a casa invadida pelas águas em enchentes. Lula respondeu:

¿ Eu sei do que é enchente. Em todas as casas que morei em São Paulo, um metro e meio de água entrava lá em casa. Já investimos R$12,9 bilhões no país em saneamento. De 1998 a 2001, praticamente não se investiu em saneamento no Brasil.

Alckmin aproveitou para falar dos programas que fez em seu estado, como governador e, antes, como vice de Mario Covas:

¿ São Paulo não tinha um piscinão antes do governador Covas. Temos hoje 22 piscinões para combater enchentes. Eu vou trabalhar para combater enchente ¿ disse ele, contestando o que Lula dissera, que aumentou os investimentos no setor.