Título: PARA ESPECIALISTAS, PT E PSDB SAEM ENFRAQUECIDOS
Autor: Fellipe Awi
Fonte: O Globo, 28/10/2006, O País, p. 12A

Cientistas políticos avaliam que lulopetismo é que sai fortalecido e que sistema partidário não resistirá às eleições

CAXAMBU (MG). O inevitável enfraquecimento dos dois principais partidos do país, PT e PSDB, foi o maior consenso entre os cientistas políticos que discutiram a governabilidade, a rearrumação das forças do Congresso Nacional e o futuro dos partidos na mesa mais esperada do 30º Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais). O debate abordou as perspectivas políticas do Brasil nos próximos quatro anos. A conclusão foi baseada na previsão de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com os institutos de pesquisa.

¿ O Lula sairá, evidentemente, fortalecido, mas não o PT, porque não foi o partido quem o elegeu. O PT vai ser apenas um núcleo em torno do presidente, formado sobretudo pela sua base sindical. É o que chamo de lulopetismo. Já o PSDB sai fragmentado porque a sua parte fundadora, aquela do Fernando Henrique, foi derrotada. Os dois partidos terão que buscar novos rumos. O atual sistema partidário não resistirá a esta eleição ¿ afirmou o sociólogo da USP Chico de Oliveira, um ex-teórico do PT.

¿Mudanças só à margem¿

Este cenário é um dos componentes do que o cientista político da USP Gildo Marçal Brandão, coordenador da mesa, chamou de crise político-partidária. Ele acredita que Lula não vai governar com o PT, mas com uma coalizão de quadros políticos de várias procedências. A reboque disso, PT e PSDB teriam de buscar novos rumos.

¿ O que estes partidos representam hoje? Eles organizam o quê? ¿ questionou Brandão.

Além de concordar com o enfraquecimento dos partidos, o cientista político Luiz Werneck Vianna, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) acrescentou que, nos próximos quatro anos, um eventual segundo governo de Lula poderá trazer apenas ¿mudanças à margem, nada grande¿ no plano econômico, fazendo com que o Estado seja um agente de crescimento. Werneck Vianna arriscou-se até a estabelecer um perfil de ministros e de diretores estratégicos nos próximos quatro anos.

¿ Será um Palocci (na Fazenda), um Meirelles (no Banco Central) e um Nelson Jobim (na Justiça) ¿ listou o pesquisador do Iuperj.

Futuro de Alckmin provoca polêmica

Diante do que considerou um PT irremediavelmente desgastado e um PSDB que preferiu fugir de uma disputa compatível com seu programa e com um candidato de perfil direitista e conservador, o cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), afirmou que os dois partidos mostraram raro despreparo na compreensão do país, o que torna o cenário ¿não de horror, mas de muitas incertezas¿.

¿ Não temos uma pauta de trabalho para o futuro. Continuaremos entre o capitalismo social e o gerencial. Em nenhum caso, deverão ocorrer mudanças fortes no país ¿ disse Nogueira.

Apesar da previsão de um cenário preocupante do ponto de vista programático, os debatedores minimizaram as possibilidades de uma crise de governabilidade, o que está sendo chamado no meio político de terceiro turno.

¿ O Lula vai conseguir apoio da maioria no Congresso; o único que não conseguiu foi o João Goulart. Nosso Congresso é muito maleável, e o poder do presidente é enorme. Ele terá uma oposição mais débil que no primeiro mandato ¿ disse Chico de Oliveira.

¿ Imaginar que os derrotados vão forçar a barra para um impeachment é conversa para boi dormir. Se vencer, o Lula ganhará fôlego para governar, o que não quer dizer que não terá dificuldades. É só lembrar que ele deve perder em centros importantes do país como o Sul, São Paulo e Minas Gerais ¿ completou Gildo.

O futuro do tucano Geraldo Alckmin, em caso de derrota nas eleições de amanhã, foi alvo de divergências entre os debatedores. Chico de Oliveira reduz sua importância política, por ver no governador eleito de São Paulo, José Serra, o líder natural de um novo PSDB. Já Werneck Vianna acredita que o candidato do PSDB à Presidência sai credenciado como político sério e grande jogador do futuro do partido.

¿ Quem fica seis meses na mídia não pode ser carta fora do baralho. O José Serra e o Aécio Neves vão correr atrás dele pensando em 2010 ¿ afirmou.