Título: PF: dono da Vicatur confessou que usava laranjas desde 2000
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 28/10/2006, O País, p. 19

Empresário, no entanto, não disse se as transações se destinariam ao PT

CUIABÁ. A Polícia Federal informou ontem que um dos donos da Vicatur confessou que utilizava o esquema de laranjas desde 2000. O empresário não disse se as transações se destinariam ao PT. Mas o superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz, disse que os responsáveis pelo inquérito estão ¿extremamente convencidos¿ de que parte dos US$248,8 mil encontrados com petistas num hotel em São Paulo vieram da casa de câmbio Vicatur, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.

A PF deve pedir a quebra do sigilo telefônico da empresa. Os sócios da Vicatur Fernando Manoel Ribas Soares e Sirley da Silva Chaves foram indiciados por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e uso de documentos falsos.

¿ A Polícia Federal está extremamente convencida de que os dólares passaram pela operação na Vicatur. Falta identificar quem pegou o dinheiro ¿ disse Lorenz.

A convicção da PF se baseia na utilização de pessoas de uma mesma família, que, em troca de pagamento, aceitaram ceder seus nomes e documentos para transações ilegais. Um dos investigadores disse que um sócio da Vicatur tinha ligação com um dos membros da família de laranjas, sem dar detalhes.

Segundo a PF, os sacadores da Vicatur são: Gilmar Cerqueira Nogueira, US$45,8 mil; Maria Gomes de Aquino, US$43,2 mil; Nadir Nery de Melo, US$43,2 mil; Adriana Lourenço dos Santos, US$45 mil; Alexandre Ribeiro Viana, US$44,5 mil; Luciano Henrique dos Reis, US$43,1 mil; Viviane Gomes da Silva, US$44,3 mil; Elaine Magalhães, de Oliveira, US$42 mil; Fabio Henrique da Silva, US$45 mil; Gerson Luiz Cotta, US$35 mil; Levy Luiz da Silva, US$44 mil; José Carlos da Silva, US$43,8 mil; Levy Luiz da Silva Filho, US$30,6 mil; Solange Maria dos Reis Mariano, US$ 42,7 mil; Demilde Gomes da Silva, US$44,3 mil; Renaldo Antonio da Costa, US$44,2 mil; e Maria Emilia Pimentel, US$45,6 mil.

Enquanto o delegado Diógenes Curado Filho, que preside o inquérito sobre a compra do dossiê, estava no Rio para ouvir o depoimento dos sócios da Vicatur, o delegado Washington Clark, também da PF de Mato Grosso, colheu o depoimento de cinco laranjas em Ouro Preto, ligados à família de Magé, Estado do Rio, que aceitaram ceder seus nomes e documentos.

Apesar de acreditar que boa parte dos dólares que seriam utilizados pelos petistas saiu da Vicatur, a PF não descarta a possibilidade de outras casas de câmbio terem participado do esquema. Três estabelecimentos, em São Paulo e Florianópolis, estão sob investigação. A PF desconfia que as casas de câmbio também possam ter sido usadas para a operação inversa, isto é, trocar dólares por reais.