Título: PF DIZ QUE VERSÃO DE LARANJA DE MINAS ERA FALSA
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 28/10/2006, O País, p. 19

Acusado de participar de farsa como testemunha já respondeu por estelionato e teria tido ajuda de tucana

BRASÍLIA e CUIABÁ. A Polícia Federal pediu ontem à Justiça Federal de Varginha (MG) a prisão do produtor cultural Luiz Armando Silvestre Ramos, acusado de participar de uma farsa ao se apresentar como testemunha da entrega de R$250 mil em espécie a Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo.

A polícia também examina a possibilidade de pedir a prisão da secretaria-executiva do PSDB de Pouso Alegre (MG), Rosely de Souza Pantaleão, que teria ajudado Ramos a fazer a falsa denúncia contra Lacerda, um dos acusados de comprar o dossiê contra tucanos. Se a Justiça aceitar o pedido, a prisão só poderá ser feita após as eleições, porque a lei impede detenções até 48 horas após o pleito.

Nome falso no depoimento à PF

Em depoimento à PF, em Varginha, quinta-feira, Ramos se apresentou com nome falso de Aguinaldo Henrique Delino. À PF, disse que trabalhava para um homem cujo nome era o dele mesmo: Luiz Armando Silvestre Ramos. Segundo Ramos, ele teria ajudado o suposto patrão a levar R$250 mil para Hamilton Lacerda, em São Paulo, um dia antes da prisão do advogado Gedimar Passos e do empresário Valdebran Padilha com o dinheiro para o dossiê.

Ramos disse até que, antes da viagem a São Paulo, o patrão fizera um depósito e depois um saque na agência do Bradesco de Pouso Alegre no valor de R$80 mil. Ele se queixou que teria sido usado como laranja para para camuflar o repasse do dinheiro do patrão para Lacerda.

Mas a confissão de Ramos, tida inicialmente como a solução para a origem do dinheiro do dossiê, não passou de farsa. Menos 24 horas após o que seria o depoimento bombástico do caso do dossiê, a PF confirmou que o suposto produtor cultural não fez movimentação bancária alguma e que seu nome verdadeiro é Luiz Armando Silvestre Ramos e não Aguinaldo Henrique Delino. Ramos tem passagem na polícia por estelionato.

¿ A máscara caiu. A versão de que ele foi laranja do patrão é totalmente fantasiosa ¿ disse o superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz.

Desconfiança a partir da falta de extrato bancário

A polícia começou a desconfiar da versão de Ramos porque ele fez a denúncia contra Lacerda, mas não apresentou o extrato da conta bancária para comprovar o depósito e o saque dos R$80 mil. Ele prometeu entregar o documento ontem, mas ao invés de cumprir o trato, desapareceu. A polícia interrogou o gerente da agência bancária, que informou que Ramos não movimentara somas expressivas, como dissera a polícia.

A partir daí, a polícia fez um levantamento e descobriu a farsa. Ramos foi apresentado à polícia pela tucana Rosely Pantaleão. Na terça-feira, ela telefonou para a superintendência da PF em Mato Grosso e disse que Ramos tinha a importante denúncia. Rosely é diretora do site TV Uai. A polícia deverá pedir a pisão dela.

O diretório municipal do PSDB de Pouso Alegre divulgou nota negando envolvimento da legenda no episódio em que Rosely, filiada à legenda, é acusada pela Polícia Federal de apresentar a falsa testemunha. O presidente do PSDB de Pouso Alegre, Samir Bechara, afirma que o diretório municipal não foi comunicado da atitude de Rosely.

COLABOROU: Evandro Éboli