Título: CABRAL ENFRENTA ASSÉDIO E CONSTRANGIMENTO
Autor: Cássio Bruno
Fonte: O Globo, 28/10/2006, O País, p. 22

No encerramento da campanha, na Baixada Fluminense, candidato do PMDB é agarrado e mal consegue caminhar

Vida de candidato não é moleza. O senador Sérgio Cabral, do PMDB, que lidera com folga a disputa pelo Palácio Guanabara, que o diga. A dois dias para o segundo turno das eleições, foram os seguranças do peemedebista que precisaram trabalhar. E muito. Em visita a sete cidades da Baixada Fluminense ontem, Cabral foi agarrado, beijado e teve até a camisa aberta pelo caloroso e histérico apoio dos moradores da região.

¿Calma gente, devagar. Assim não dá¿

Visivelmente assustado, em alguns momentos, com a recepção, principalmente na Praça da Matriz, em São João de Meriti, Cabral tentava agradar ao eleitorado com sorrisos e acenos, mas não conseguiu disfarçar a agonia do tumulto que se formou a sua volta. De brinde por sua simpatia pré-eleição, o senador levou, inclusive, uma gravata de um eleitor mais exaltado, que comemorava a sua presença. A atitude quase provocou a queda de Cabral.

¿ Calma gente, devagar. Assim não dá ¿ não se cansava de repetir, sem sucesso, um segurança do peemedebista em meio a bandeiras, carro-de-som, políticos aliados e cabos eleitorais.

Acompanhado pela coordenadora da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Benedita da Silva, e pelo senador eleito Francisco Dornelles (PP), Cabral também sofreu para dar entrevistas. Puxa daqui, puxa dali, e vários jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas tentavam chamar a atenção do candidato. Em vão. Quando conseguiu parar e conversar, sobrou para a adversária Denise Frossard (PPS).

¿ Ela mais uma vez mostrou despreparo (no debate da TV Globo de anteontem). Mostrou falta de conhecimento até geográfico. Não sabe os estados vizinhos ao Rio de Janeiro. Inventou uma tal de Baixada Leste. Não tem conhecimentos em relação aos assuntos administrativos ¿ disse o peemedebista.

Candidato recebe vaias em Queimados

Sérgio Cabral começou o dia em Queimados. Ele foi recepcionado pelo ex-presidente da Câmara Max Lemos (PMDB), adversário do prefeito da cidade, Rogério do Salão (PP), aliado do senador. A claque de Max vaiou Cabral quando ele citou o nome do prefeito. Mais tarde, o candidato tentou justificar o caso.

¿ Não, ao contrário. Fui aplaudido. Não é verdade (...). Quando falei o nome do Rogério, aqueles militantes do Max mais aguerridos não gostaram de ouvir o nome. Mas a população recebeu muito bem ¿ disse Cabral.

Em Nova Iguaçu, o senador percorreu a Avenida Governador Amaral Peixoto, no Centro, com os deputados federais Nelson Bornier (PMDB) e Sandro Mattos (PTB), que fazem campanha para o candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB). Bandeiras, adesivos e panfletos estavam no cenário para a visita de Cabral, aliado de Lula.

¿ Eu não tenho como controlar isso. Sou presidente Lula. Inclusive, estou aqui com a coordenadora de campanha dele, que é a Benedita ¿ disse, irritado, o candidato.

Poucos metros depois, Cabral foi obrigado a passar em frente à Vicatur Câmbio e Turismo, local de onde supostamente saíram os US$248,8 mil que foram usados por petistas para comprar um dossiê contra tucanos. O senador desviou o caminho e passou atrás de sua van para escapar da mira dos fotógrafos.

Cabral seguiu para Nilópolis, onde interrompeu o trânsito na Avenida Getúlio de Moura, em frente à estação, por alguns minutos logo na chegada. O senador seguiu para a Avenida Mirandela e enfrentou o excesso de barracas de camelôs no local numa tumultuada caminhada.

O candidato andou ao lado do prefeito do município, Farid Abrão David, do deputado federal Simão Sessim, ambos do PP, e do deputado estadual Alessandro Calazans (PMN), que, em 2005, quase foi cassado por quebra de decoro. Ele foi flagrado numa gravação com um lobista que pedia a retirada do nome de um empresário do relatório final da CPI da Loterj/Rioprevidência. Cabral também esteve em Caxias, Belford Roxo e Magé.