Título: ENGARRAFAMENTO AÉREO
Autor: Monica Tavares e Roberto Stuckert Filho
Fonte: O Globo, 28/10/2006, Economia, p. 45

Vôos atrasaram até 4 horas, por operação-padrão de controladores e demanda maior

Ocolapso da capacidade de controle do tráfego aéreo levou o Aeroporto Internacional de Brasília a passar por uma sexta-feira caótica. Até as 18h de ontem, um terço dos 150 vôos previstos para o dia ¿ ou 49 decolagens ¿ atrasou. De manhã, foram adiados 32 e à tarde, 17. Vôos com destinos variados, como São Paulo, Rio, Porto Alegre e cidades do Nordeste, chegaram a atrasar quatro horas, e passageiros foram colocados e retirados das aeronaves à medida que o ¿engarrafamento¿ aumentava.

Uma operação-padrão dos controladores de vôo, segundo fontes do governo, está piorando a situação. Como Brasília é um centro de redistribuição de passageiros, a demanda três vezes maior do que a normal, registrada ontem, provocou reflexos e sobrecarga em todos os aeroportos do país, em que também foram registrados atrasos e cancelamento.

¿ Foi estressante. Só temos 35 posições para aviões (em Brasília) e 32 estavam no pátio do aeroporto. Tem avião retido em todo o país e houve cancelamentos de vôos. Alguns problemas de atraso continuam em Congonhas. Estamos preparados para novos problemas ¿ disse o brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero, estatal que administra os aeroportos do país.

Vôo coletivo poderá ter preferência

O problema no aeroporto de Brasília começou às 6h47, quando houve o primeiro alerta da torre de controle. Em seguida, as decolagens foram restringidas para serem feitas de dez em dez minutos. Às 8h25, as saídas dos aviões com destino às regiões Sul e Sudeste e a Cuiabá foram suspensas. Somente 45 minutos depois, foram retomadas.

O pior problema ocorreu com um avião da Gol com destino a São Paulo. Com saída prevista para as 7h, somente conseguiu levantar vôo às 10h58. Às 10h40, os vôos voltaram a decolar para todas as regiões.

Leonardo Colombo, que viajaria às 10h30 para o Rio, chegou a fazer check in e ocupar seu assento na aeronave da TAM. Mas teve que se retirar do avião meia hora depois, pois não houve autorização de decolagem.

¿ O aeroporto está parecendo uma rodoviária ¿ lamentava Colombo.

De tarde, os aviões continuavam saindo com atraso. O economista Carlos Sanches perdeu a audiência que teria ontem em Brasília. Houve um atraso de uma hora em seu vôo, em São Paulo, e, além disso, o avião ficou sobrevoando o aeroporto por mais de 30 minutos até aterrissar.

O servidor Geraldo Siqueira foi de Brasília para São Paulo ontem. O vôo, que deveria chegar às 15h, pousou às 17h:

¿ O avião chegou a Brasília no horário, o embarque foi sem problemas, mas ficamos uma hora e meia no solo, dentro do avião, porque não tinha autorização para decolar.

O professor Luis Eduardo Dias ficou uma semana em Brasília e, ontem à tarde, estava tentando voltar para Belo Horizonte. Seu vôo estava com quatro horas de atraso.

¿ Parece que tem uma briga interna entre a Infraero e os funcionários da torre (de controle de vôo). Estou achando que é de propósito ¿ especulava ele, sobre uma briga que realmente está ocorrendo.

A percepção do governo é que ¿ embora o tráfego aéreo tenha crescido com a proximidade da alta temporada e haja menos profissionais trabalhando no controle dos vôos ¿ os controladores de vôo do Setor 5 (área comandada pelo aeroporto da capital federal) decidiram fazer uma operação-padrão após o acidente com o Boeing da Gol.

Houve suspeitas de falha humana na comunicação com as aeronaves envolvidas na colisão, e os profissionais estariam agora trabalhando sob o limite considerado ideal pelas regras internacionais, disse uma fonte do governo. Pela legislação internacional, os controladores de vôo só podem cuidar de até 14 aviões ao mesmo tempo. Mas, tecnicamente, teriam como operar um maior número de aeronaves, explicou a fonte.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, disse ontem que poderá ser dada preferência a vôos coletivos em relação a vôos particulares para aterrissagens e decolagens, sobretudo em Congonhas e Brasília. Além do afastamento de oito controladores do Setor 5 após o acidente da Gol, as amplas frotas de jatos particulares e de helicópteros em São Paulo e Brasília estão sendo consideradas potencializadoras do ¿engarrafamento¿.

Ministro promete contratações

Pires afirmou que os problemas estão sendo provocados também pela expansão do mercado da aviação civil. E prometeu reforço:

¿ Vamos ampliar enormemente o quadro (de controladores), de forma que tenhamos uma folga significativa e, por antecipação, vamos acompanhar a evolução do mercado. Vamos fazer de forma ordenada e sempre nos antecipando a essa expansão do mercado, que não era natural até agora.

Pires disse que um bom controlador precisa de treinamento de cinco a seis meses. Mas acha que até o fim do ano a situação no aeroporto de Brasília pode se normalizar. Os controladores, disse, continuarão sendo militares porque o espaço aéreo é questão de segurança nacional. Para ele, serão necessários poucos recursos para contratar controladores, já que, na prática, significa a ¿especialização de sargentos da Aeronáutica¿.

COLABORARAM Cristiane Jungblut e Mariana Sallowicz, do ¿Diário de S.Paulo¿