Título: BOLÍVIA FECHA ACORDOS, MAS NÃO COM PETROBRAS
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 28/10/2006, Economia, p. 47

Discussões com brasileira continuam hoje, prazo final das negociações. Governo boliviano considera históricos novos contratos

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. O governo Evo Morales fez ontem um gigantesco ato público para anunciar a assinatura de novos acordos com algumas petrolíferas que operam no país. No entanto, as negociações com a Petrobras devem continuar hoje, já que a empresa brasileira não integrou a lista de companhias que ontem firmaram novos entendimentos. Autoridades do governo que participaram do ato consideraram histórica a assinatura dos acordos.

¿ Às outras empresas com que estamos negociando, quero dizer que, apesar de sermos um país pequeno, subdesenvolvido, as companhias têm de respeitar nossas normas, nossas leis. Vamos fazê-las respeitar ¿ disse Morales.

Foram assinados novos contratos com a francesa Total, com participação na renda petrolífera de 82% e investimentos superiores a US$1 bilhão, e com a americana Vintage, que opera nos campos de gás em Naranjillo, Porvenir e Chaco Sur.

¿ A Bolívia recuperará sua participação na cadeia dos hidrocarbonetos. O Estado participará na exploração, produção e comercialização ¿ disse o ministro dos Hidrocarbonetos, Carlos Villegas.

O ex-presidente da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) Jorge Alvarado, que participou ativamente das negociações até abandonar o cargo há cerca de um mês, reconheceu que as discussões com a Petrobras foram as mais complicadas.

¿ Avançamos muito com Total, Repsol YPF e British, mas com a Petrobras, bem, dependerá da empresa. Diversos fatores complicaram as conversas. Em primeiro lugar, a exploração e produção, já que eles (os brasileiros) têm o campo mais importante do país (San Alberto), que fornece gás ao Brasil. Também há as duas refinarias ¿ disse Alvarado, acrescentando que a Petrobras ¿insistiu em continuar participando do negócio e nós dissemos que isso não era possível¿.

Amorim: o importante é que não haja confisco

O governo boliviano quer que as petrolíferas sejam apenas prestadoras de serviços, condição rechaçada pela Petrobras. Segundo a imprensa local, a grande preocupação da Petrobras era garantir o fornecimento de gás ao Brasil. A companhia considera importante continuar participando do processo de exploração e produção, pois não confia na capacidade da YPFB. Outro ponto delicado da negociação é o preço do gás.

Ontem, após deixar a sede da YPFB em La Paz, o gerente-executivo para o Cone Sul da Petrobras, Décio Oddone, limitou-se a dizer que não falaria sobre a negociação.

Ontem, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, cancelaram a viagem que fariam a La Paz. A explicação oficial foi que, como qualquer documento a ser assinado por Petrobras e YPFB terá de ser aprovado pelo Congresso boliviano, era melhor não se precipitar. A visita seria meramente política, pois quem assina os contratos são os dirigentes da Petrobras Bolívia.

Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que as negociações com a Bolívia estavam ocorrendo ¿em termos técnicos e não retóricos¿. Segundo ele, o importante é que não haja imposições ou confisco de patrimônio ¿ garantia dada por Morales.

¿ O importante é assegurar tanto as garantias jurídicas quanto uma viabilidade econômica. É o que estamos tentando obter. O importante é que as condições sejam adequadas, que tornem o empreendimento viável, que não haja, como dissemos muitas vezes, confisco ¿ disse Amorim.

COLABORARAM Eliane Oliveira e Cristiane Jungblut