Título: DESAFIO DO NOVO GOVERNO SERÁ GARANTIR O CRESCIMENTO
Autor: Ilimar Franco, Raquel Miura e Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 3

Se reeleito hoje, Lula assumirá pessoalmente a montagem do novo Ministério

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva, se reeleito hoje, dará uma guinada política em seu governo, com a ampliação das alianças partidárias, mas manterá a linha programática do primeiro mandato. Diferentemente dos primeiros quatro anos, quando teve de dar ênfase à estabilidade econômica devido ao ambiente de crise e incertezas que antecedeu sua posse, agora o presidente dará prioridade à busca do crescimento sustentado. Medidas políticas indutoras do desenvolvimento e obras em infra-estrutura devem ser a tônica do possível segundo mandato.

¿ Vamos combinar metas de inflação com metas de crescimento. Em 2007, o Brasil deve crescer 5% ¿ diz Tarso Genro, ministro de Relações Institucionais.

Deverá ser mantido o modelo atual, de estabilidade econômica, com o controle da inflação e investimentos sociais, sobretudo com o Bolsa Família, mas com um reforço maior em outro campo da área social: os programas de educação, setor que não esteve entre as prioridades do primeiro mandato.

Para isso, a primeira alteração prometida será de atitude: o presidente pretende assumir, pessoalmente, o processo de montagem do novo governo, se reeleito.

Lula vai abrir seu governo e compartilhá-lo com os aliados, principalmente o PMDB. Depois de dois anos de crise política, e com setores da oposição ameaçando manter a luta pelo impeachment, o presidente considera decisivo fechar com a maior parte do PMDB, e garantir maioria sólida no Congresso. Embalado pelo provável sucesso nas urnas, Lula terá maior autonomia em relação ao PT.

¿ O presidente Lula sabe que nenhum partido pode reivindicar para si só o futuro do país ¿ diz o governador eleito da Bahia, o petista Jaques Wagner.

O Bolsa Família ¿ uma das coroas da administração do PT, segundo os próprios petistas ¿ continuará ocupando espaço de destaque, mas a educação terá novo status. O sucesso do ProUni, que concede bolsas de ensino a universitários carentes, deverá ser ampliado. Outras iniciativas para o setor, como o Fundeb, que garante mais recursos ao ensino fundamental, devem ser aprovadas pelo Congresso e finalmente sair do papel.

Atenção à crise da segurança pública

Outro ponto que tende a ter maior atenção em um segundo mandato, até mesmo pelo aumento dos crimes no país e a cobrança crescente da sociedade, deverá ser a segurança pública. Políticos e especialistas acreditam que o governo federal terá de assumir de vez o papel de protagonista na elaboração de políticas para o setor.

Lula ainda não tem um plano detalhado para a atuação do governo federal na área, mas viu, durante a campanha eleitoral, que não apenas os adversários políticos como também a sociedade esperam mais do governo federal. O discurso de que segurança pública é responsabilidade dos governos estaduais não é aceito pelos brasileiros.

Um novo projeto de desenvolvimento

Nesta área, além da percepção de que é preciso maior comprometimento da União, o que existe é a determinação do presidente de que no eventual segundo mandato sejam efetivamente construídos, e entregues para funcionamento, os presídios federais prometidos desde o início de seu primeiro mandato.

Petistas envolvidos na campanha e no programa de governo dizem acreditar que os investimentos pretendidos para o segundo mandato serão possíveis, entre outras coisas, porque houve uma superação de entraves que existiram no primeiro mandato: acabou a disputa entre correntes econômicas divergentes e saiu vencedora a que prega abertamente o desenvolvimentismo ¿ hoje com Dilma Rousseff (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda) à frente.

¿ O governo tomou as decisões no primeiro mandato com base nas opções possíveis diante das conjecturas do momento. O presidente Lula nunca abriu o seu projeto de desenvolvimento no Brasil, e isso poderá ser feito no segundo mandato ¿ afirma o coordenador da campanha petista, Marco Aurélio Garcia.

Um exemplo da superação desses embates em prol dos desenvolvimentistas são os diversos projetos de aumento de concessão de crédito às camadas menos favorecidas da população, que já estão elaborados e que devem ganhar novo fôlego a partir de 2007.

Grande parte do resultados esperados pelo governo com essa estratégia dependerá da manutenção do estilo imposto por Dilma Rousseff, que imprimiu um ritmo para a execução de alguns programas e que trouxe diferenças tangíveis em relação à primeira metade do governo Lula. Além da política de créditos, programas como o Biodiesel e o ProUni se transformaram em realidade depois que ela assumiu a Casa Civil, com amplos poderes delegados por Lula.

Busca de pauta com PSDB e PFL

É diante desse cenário econômico e social favorável que os auxiliares de Lula confiam que não vingará a aventada paralisia no segundo mandato, como apregoam setores da oposição. Marco Aurélio Garcia diz acreditar que, com a provável vitória de Lula, a equação política começará a se fechar na primeira quinzena de novembro, quando o presidente vai se reunir com os partidos aliados para tratar da montagem do governo.

Desta vez, além de não deixar um vácuo que possa ser preenchido por reações da oposição, o presidente não delegará poderes na negociação política, como fez no primeiro mandato. A primeira tarefa é fechar a coalizão com o PMDB e, para isso, Lula quer que o partido se unifique a adote uma posição institucional que expresse o desejo da maioria.

¿ Não dá mais para ter apenas 50% do PMDB apoiando o governo ¿ afirma Tarso Genro.

A distensão política é outra preocupação estratégica do presidente Lula no possível segundo mandato. Logo após concluir os entendimentos com os aliados, o presidente conversará com a oposição. Quer tentar estabelecer uma pauta comum com o PSDB e o PFL para aprovar a reforma política e também mudanças no processo de elaboração do Orçamento da União.

(*) da CBN, especial para o GLOBO

www.oglobo.com.br/pais/eleicoes2006