Título: PT E PSDB MOSTRAM SUAS DIFERENÇAS EM EDUCAÇÃO, ECONOMIA E SEGURANÇA
Autor: Henrique Gomes Batista e Raquel Miura
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 4

Universidade X ensino profissionalizante, apenas uma das polêmicas

BRASÍLIA. O candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, repetiu quase como um mantra ao longo da campanha eleitoral que é muito diferente de Lula, embora tenha prometido manter o principal programa do governo petista, o Bolsa Família. Programaticamente, as diferenças ficam mais visíveis nas propostas de algumas áreas, como a educação.

O coordenador do programa de governo do PSDB, João Carlos Meirelles, explica: enquanto Lula dá atenção especial ao ensino superior, principalmente ao ProUni ¿ que distribui bolsas de estudo a alunos carentes em faculdades particulares que, em contrapartida, são beneficiadas com isenção fiscal ¿ um eventual governo Alckmin vai priorizar o ensino técnico e profissionalizante.

¿ Lula vende a ilusão de que a universidade é a única solução para um futuro melhor para jovens pobres. Pensamos diferente: o ensino superior pode ser uma alternativa, mas é impossível atender a todos. Outro caminho é o ensino técnico, que assegura formação e trabalho aos jovens. Quantos auxiliares de enfermagem trabalham com um único médico? ¿ pergunta Meirelles.

Os tucanos prometem manter o ProUni, mas concentrarão investimentos na expansão de escolas profissionalizantes e faculdades técnicas, repetindo o que Alckmin fez no governo de São Paulo. Entre os projetos comuns, tucano e petista prometem universalizar o ensino fundamental de nove anos, um a mais que o atual.

Rumo definitivamente desenvolvimentista

Mesmo comprometido com as bases econômicas atuais ¿ estabilidade, superávit primário e liberdade cambial ¿ o PSDB diz que, se assumir a Presidência da República, fará mudanças. O embate vivido no governo de Fernando Henrique Cardoso entre desenvolvimentistas ¿ que defendem atuação indutora do crescimento econômico por parte do governo ¿ e monetaristas ¿ que esperam fundamentação mais sólida das contas públicas ¿ não deve se repetir, prometem os tucanos, porque o rumo será definitivamente desenvolvimentista.

¿ No nosso governo só teremos desenvolvimentistas. Não vamos intervir no câmbio, mas tomaremos políticas para que ele, mesmo com a livre flutuação, tenda a ficar em um patamar mais favorável às exportações e a produção nacional ¿ disse Meirelles.

Um grande sucesso na política econômica de Lula, o aumento do crédito, sobretudo o crédito consignado, em que as prestações mensais são descontadas na folha do trabalhador e de aposentados, deve passar por ampla reflexão em caso de vitória tucana. Ao contrário de Lula, que pretende ampliar o mecanismo, os tucanos devem rediscutir a expansão desse tipo de empréstimo.

Eles acreditam que crédito é fundamental para o crescimento, mas não pode ser concedido de forma indiscriminada, sob alegação de que isso aumenta o endividamento e compromete a renda das famílias.

Tucano anuncia Ministério da Segurança Pública

Na segurança pública, Alckmin vai na contramão de seu discurso de enxugar a máquina e anunciou que criará o Ministério da Segurança Pública. A pasta assumiria as atuais funções da Secretaria Nacional de Segurança Pública e a gestão da Polícia Federal, além de coordenar políticas conjuntas de segurança, o que esvaziaria o Ministério da Justiça.

¿ O combate à violência tem de lidar com fenômenos complexos que devem ser enfrentados de forma integrada e sistêmica ¿ disse Alckmin, na apresentação de seu programa.

O candidato promete, como fez em São Paulo, mudanças na Lei de Execuções Penais e no sistema penitenciário. Pretende tornar o sistema prisional mais duro para criminosos de alta periculosidade e a abrandar as penas dos pequenos infratores.

Uma das principais alterações num eventual governo tucano, no entanto, será a política externa. O PSDB defende uma ampla mudança na área, com a retomada da prioridade do relacionamento com os países ricos, notadamente Estados Unidos e com a União Européia. A relação Sul-Sul, que prioriza os países em desenvolvimento, e o Mercosul ficariam em segundo plano.

Líderes do PSDB já declararam que a busca por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU não estará entre as prioridades do Itamaraty. O objetivo será obter assento em outros organismos, mesmo como observador, como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, que reúne as economias mais ricas e industrializadas do planeta) e o G-8, que reúne as sete principais potências econômicas e a Rússia.

(*) Da CBN, especial para O GLOBO