Título: CLIMA DE GUERRA NÃO TEM ESPAÇO¿
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 10

Wagner diz que governo e oposição atuarão no clima de normalidade

Governador eleito da Bahia, o petista Jaques Wagner aposta na pacificação do país e afirma que a sociedade não aceitará a manutenção do clima de guerra provocado pela crise política ocorrida a partir de junho de 2005. Sua avaliação é que os eleitores, ao tomarem sua decisão hoje, esperam que os governadores e o presidente governem. Wagner elogia a postura do tucano Aécio Neves, que defendeu o fim da guerra política a partir deste domingo. Estrela petista em ascensão, Jaques Wagner defende o reequilíbrio de forças no PT, sem qualquer veto aos paulistas, e diz que deve ser institucional a relação do governo com os partidos aliados.

A disputa política termina hoje com o segundo turno ou a guerra continua?

JAQUES WAGNER: O que continua é governo e oposição. Isso é natural. Mas esse clima de guerra, de teia de intriga, não tem espaço na sociedade para se manter. O que ocorreu foi exagerado, mas diria que é normal a tentativa de ganhar usando qualquer método. Não concordo com isso, mas é do jogo bater abaixo da linha da cintura. Agora não, os governadores do PSDB, do PFL, do PMDB, do PT, e o presidente eleito querem e precisam governar. Não acredito que empresários, trabalhadores e a sociedade vão se calar diante daqueles que pretenderem manter um clima de guerra prolongada. Vamos ter governo e oposição, mas dentro de um clima de normalidade.

Há espaço político para o chamado terceiro turno?

WAGNER: O Brasil não está mais no tempo da Rua Toneleros (crise política vivida por Getúlio Vargas). O país já passou por muitas experiências traumáticas, o governo militar, o impeachment de Collor, o governo Fernando Henrique. Essa é uma caminhada de amadurecimento da democracia. Não há espaço para o terceiro turno, mas para a oposição fiscalizar o governo. Isso é próprio da democracia.

O que o presidente Lula pretende fazer para pacificar o país, se reeleito hoje?

WAGNER: A melhor medida, já que as bases estão lançadas, é fazer o país crescer e se desenvolver a taxas superiores às atuais. Fizemos um esforço muito grande. As coisas não se resolvem com passe de mágica. Temos que resolver a questão do câmbio. A decisão do presidente é clara, preparamos tudo e mostramos que é possível ter crescimento econômico com distribuição de renda e programas sociais. É preciso aprofundar isso. Se o Brasil crescer a 5%, se o emprego estiver sendo gerado e o programa social ampliado, não há espaço para guerra.

O que é preciso mudar no provável segundo mandato do presidente Lula?

WAGNER: O presidente Lula e sua equipe estão mais maduros e com maior experiência na gestão. Creio que o presidente vai mudar algumas peças do tabuleiro. O mais importante é ter uma relação institucional com partidos da base aliada em cima de programas. A relação não pode ser pontual e individual.

É favorável a um governo de coalizão com o PMDB?

WAGNER: As pessoas, às vezes, tropeçam na nomenclatura. O governo de coalizão deve ser compartilhado entre as forças políticas que conquistaram esse governo. Vou fazer isso na Bahia. O governo não será meu, tenho uma coligação de nove partidos e há partidos que contribuíram fora da coligação. O presidente Lula tem uma visão larga, de futuro, e sabe que nenhum partido pode reivindicar para si só o futuro do país. Governar com partidos aliados e o PMDB, como um todo, é uma visão correta do presidente.

O que é preciso mudar no PT a partir de agora?

WAGNER: Só agora vamos pôr a cabeça fora d¿água. Venceremos as eleições. Isso quer dizer que a sociedade ainda nos quer, mas sem os problemas que aconteceram. O partido tem de criar mecanismos internos de controle dos seus. Em tese todos são honestos, mas vimos que tem gente que entra no descaminho para manter-se no poder ou ganhar eleição. O partido tem que equilibrar mais seu poder.

Como se dará esse reequilíbrio de forças no PT?

WAGNER: A geografia do poder vai sofrer variações. Sou contra os que defendem o veto a São Paulo. Tem é que equilibrar. Não adianta trocar uma hegemonia por outra, porque vai resultar no mesmo defeito. Há PT no Brasil inteiro. É recomendável equilibrar o poder na direção nacional para que esse ar novo, que está chegando, tenha circulação.

O governador Aécio Neves defende a pacificação do país e que os governadores apresentem novas propostas de reformas tributária e política.

WAGNER: É louvável sua defesa da pacificação. Isso mostra que não há espaço para terceiro turno. Essa postura dele, e do governador José Serra, era esperada. Eles querem governar e, portanto, não vão ficar nessa luta de intriga.

O senhor é a favor do fim da reeleição? Qual sua proposta de reforma política?

WAGNER: Se depender da vontade do presidente, sim. Se depender da minha também. Sou conceitualmente contra a reeleição. O eleitor deve reeleger métodos e partidos e não pessoas. É preciso uma reforma política com fidelidade partidária, financiamento público das campanhas eleitorais e que avalie a adoção do voto em listas partidárias de candidatos. É preciso dar uma resposta à sociedade.