Título: De presidente a candidato em tempo integral
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 13

Lula teve atos de campanha em todos os 28 dias do 2º turno

BRASÍLIA. Nestes 28 dias desde a eleição em primeiro turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente abandonou a agenda presidencial e deu prioridade aos compromissos de candidato. Trocou o trabalho no Palácio do Planalto por reuniões no Palácio da Alvorada, comícios pelos estados e gravações de seu programa eleitoral. Neste período, Lula teve atividades de campanha todos os dias, sendo que em 17 deles viajou pelo país.

Mesmo quando estava em Brasília, pela manhã costumava gravar programas eleitorais ou conceder entrevistas a meios de comunicação como candidato, além de ter reuniões com assessores e ministros. Na primeira semana após o primeiro turno, 1º de outubro, Lula passou três dias com agenda exclusivamente de candidato no Palácio da Alvorada, em reuniões com governadores e parlamentares eleitos e com ministros, para definir a estratégia de sua campanha no segundo turno da eleição.

A primeira semana de segundo turno foi mais dedicada às articulações políticas. No dia 4, Lula se reuniu, no Alvorada, com sete governadores eleitos, entre eles Jaques Wagner (PT-BA) e Marcelo Déda (PT-SE) e, à tarde, recebeu aliados do PMDB. No mesmo dia deixou o Alvorada às 17h10m rumo ao Planalto para assinar a medida provisória que liberou R$1,5 bilhão do Orçamento, que a oposição acusou de eleitoreira e, mais tarde, foi suspensa pela Justiça. No dia seguinte, fechou aliança com o candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral.

Somente dia 6, pouco antes de iniciar a primeira rodada de comícios pelo Nordeste, Lula teve seu primeiro compromisso oficial público como presidente: recebeu, no Planalto, o presidente eleito do México, Felipe Calderón. Dia 9, o segundo compromisso: encontro com a Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra). Mas pouco antes Lula foi ao Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, para evento político: encontro com cantores gospel. As cerimônias no Palácio, de que Lula gosta tanto, só foram retomadas dia 11. De lá para cá, foram realizadas apenas seis cerimônias oficiais, e sempre de conotação eleitoral.

Reuniões oficiais na agenda para evitar as críticas

Neste período, o próprio Lula disse várias vezes que ficava confuso com sua ¿dupla personalidade¿. Para evitar acusações de que havia deixado a Presidência de lado, manteve na agenda oficial reuniões diárias com assessores. Mas por três dias a Presidência divulgou agendas oficiais vazias, informando: ¿O presidente não terá compromissos oficiais¿. Isso ocorreu na última sexta-feira, por exemplo, quando Lula comemorou o aniversário com militantes e se preparou para o debate da TV GLOBO, à noite.