Título: ALCKMIN GANHA FORÇA NO NOVO MAPA DO PSDB
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 15
Seja qual for o resultado da disputa de hoje, tucano terá peso nas decisões do partido para a próxima eleição
BRASÍLIA. O segundo turno nas eleições presidenciais provocou uma reviravolta na geopolítica do poder tucano e vai impor uma nova divisão de forças no PSDB. Independentemente do resultado de hoje, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, será o novo fiel da balança tucana. Nenhum dirigente do partido admite publicamente, mas a avaliação interna é de que, confirmada a derrota prevista nas pesquisas, Alckmin seria o nome natural para disputar a prefeitura de São Paulo em 2008 e, com isso, consolidar o capital político obtido nessa eleição. Seria uma trajetória semelhante à de José Serra, que perdeu para Lula a disputa presidencial de 2002 e em 2004 elegeu-se prefeito.
¿ Em qualquer circunstância, de vitória ou derrota, Alckmin vai ser importante para o partido depois da eleição. Ele enfrentou uma luta dura e se mostrou um grande político, com determinação e liderança. O PSDB não sabia que tinha um candidato e descobriu isso com Alckmin ¿ afirma o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha tucana.
Assédio de candidatos tucanos nos estados
Antes mesmo do fim da campanha, já teve início no ninho tucano uma disputa pela vaga de presidenciável do partido em 2010 ¿ no topo da lista, o governador reeleito de Minas, Aécio Neves, e o governador eleito de São Paulo, José Serra.
A constatação no núcleo do PSDB é de que, nessa disputa, o apoio de Alckmin será decisivo. Até então visto como um político regional que só chegou ao governo de São Paulo por ter sido vice do então governador Mario Covas, Alckmin ganhou força nessa eleição ao obter 40 milhões de votos no primeiro turno. Tornou-se um eleitor importante em qualquer circunstância.
¿ O Alckmin passou a ser uma figura nacional. A disputa presidencial o colocou num outro patamar ¿ observa o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), ex-secretário de governo da gestão Alckmin no Palácio dos Bandeirantes.
É nesta condição de nova liderança do PSDB que Alckmin passou a ser cortejado por tucanos de todas as cores na reta final da campanha, mesmo com os resultados das pesquisas que indicam ampla vantagem de Lula na eleição de hoje. Por isso, tanto Aécio como Serra resolveram mostrar empenho na campanha, ainda em outubro.
Serra acompanhou Alckmin a cidades do interior paulista na semana passada e foi a Curitiba, onde pediu votos para o tucano. Aécio reforçou a agenda de Alckmin em Minas e também viajou com o candidato para outros locais, como Rio Grande do Sul.
Mesmo com seu novo capital eleitoral e a importância que ganhou no cenário político, Alckmin está longe, entretanto, de se tornar um dos maiores líderes do PSDB. Isso porque, dizem os próprios tucanos em conversas de bastidores, não soube fazer um time de aliados fiéis. Diferentemente de outras grandes estrelas tucanas, Alckmin não se preocupou em criar um grupo político, como fizeram Mario Covas e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Havia até os chamados ¿covistas¿ e ¿fernandistas¿. O próprio Alckmin pertenceu ao grupo de Covas. Atualmente, os dois grupos mais fortes dentro do PSDB são liderados por Serra e Aécio.
Com vitória de Lula, a aposta do PSDB é eleição de 2010
Diante da possibilidade de vitória de Lula nesta eleição, o PSDB passou a apostar todas as fichas na disputa de 2010. A avaliação é de que, ao contrário do PT que sofreu grandes perdas, o partido conseguiu formar novas lideranças para disputar a presidência. O PSDB aposta no fim do projeto de poder do PT na próxima eleição, por ausência de renovação de quadros. Este é o argumento usado para minimizar a disputa interna no ninho tucano.
¿ Não tenho dúvida de que Alckmin ascendeu ao patamar mais alto da hierarquia do partido. Isso fortalece o PSDB para o futuro como o único partido com grandes quadros no Brasil. O que será do PT depois de Lula? O PT não tem ninguém para a sucessão em 2010, enquanto o PSDB formou quadros ¿ diz o candidato ao governo do Pará, Almir Gabriel (PSDB).