Título: NA AMÉRICA LATINA, TORCIDA POR LULA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 20

Dirigentes do continente preferem a permanência do presidente no poder por causa do processo de integração

BUENOS AIRES. Se os líderes latino-americanos tivessem o poder de decidir o futuro político do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria com a reeleição garantida por maioria esmagadora de votos. Os mais importantes governos da região, sem exceções, preferem a continuidade de Lula na Presidência, em grande medida pelo que consideram uma enérgica atuação do Planalto no processo de integração política e econômica dos países do continente. Consultadas pelo GLOBO, importantes lideranças políticas da Argentina, Venezuela, Paraguai, Bolívia e Uruguai manifestaram apoio à candidatura de Lula.

¿ Não há dúvida nenhuma de que um triunfo de Lula será um novo fato positivo para nossos povos ¿ assegurou o ex-chanceler da Venezuela, Alí Rodríguez Araque, designado recentemente novo embaixador de seu país em Cuba.

Derrota levaria a fragmentação

Na visão de Rodríguez Araque, na gestão do presidente Lula o processo de integração ganhou um novo impulso, ¿não somente na questão mercantil, mas, muito mais do que isso, quanto ao intercâmbio necessário entre países empenhados em melhorar as condições de vida de seus povos¿.

¿ Em seu governo o Brasil desempenhou um papel de liderança muito importante que, temos certeza, será fortalecido numa segunda gestão ¿ disse o venezuelano, um dos principais colaboradores do presidente Hugo Chávez.

A opinião de Rodríguez Araque é compartilhada por analistas venezuelanos como Ana Maria San Juan, diretora do Centro para a Paz da Universidade Central da Venezuela.

¿ Uma derrota de Lula provocaria um cenário de fragmentação na América Latina ¿ argumentou San Juan.

Em Buenos Aires, funcionários do governo de Néstor Kirchner não escondem a preferência pelo presidente brasileiro.

¿ A vitória de Lula ajudará a consolidar o Mercosul. Estamos trabalhando juntos há quatro anos e o melhor seria continuar assim ¿ declarou o subsecretário de Integração Econômica da chancelaria argentina, Eduardo Sigal.

Na opinião do funcionário e dirigente político argentino, ¿uma eventual vitória de (Geraldo) Alckmin traria de volta a concepção do Mercosul dos anos 90¿.

Apesar de terem protagonizado delicadas crises diplomáticas nos primeiros anos de seus governos, Lula e Kirchner parecem ter conseguido superar as diferenças. Durante a campanha eleitoral brasileira, o presidente argentino chegou a afirmar que não tinha nenhuma dúvida de que a integração do Brasil com a Argentina se consolidará no segundo mandato de Lula, ¿que é o que a maioria dos argentinos espera¿. Foi uma maneira de retribuir o apoio recebido na campanha eleitoral de 2003, quando Kirchner, na época um candidato pouco conhecido no exterior, foi recebido por Lula em Brasília.

Paraguaios e uruguaios, que nos últimos tempos se uniram para exigir maiores benefícios no processo de integração do Mercosul, também torcem para que Lula obtenha um bom resultado na votação de hoje. Embora questionem as assimetrias existentes entre os países que integram o bloco, ambos os governos consideram que um segundo mandado de Lula seria a melhor alternativa para a região.

¿ Trabalhamos muito bem com Lula, existe uma química muito especial entre nossos presidentes ¿ admitiu um alto funcionário do governo paraguaio, que pediu para não ser identificado.

Em Montevidéu, as opiniões são similares.

¿ A Frente Ampla (coalizão de governo uruguaia) e o PT tem um relacionamento estreito e antigo, nós sempre respaldamos Lula e o presidente brasileiro foi muito generoso com manifestações de apoio a nós durante a campanha eleitoral de 2004 (que consagrou o presidente Tabaré Vázquez, primeiro chefe de Estado esquerdista na história do país) ¿ comentou uma fonte do governo uruguaio.

Bolívia aposta na reeleição

A queda-de-braço entre a Petrobras e o governo do presidente boliviano, Evo Morales, não parece ter abalado a amizade entre o líder cocaleiro e o presidente Lula. No Palácio Quemado (sede do Poder Executivo boliviano), a vitória do candidato do PT é considerada fundamental para o futuro do relacionamento bilateral.

¿ Com Lula às vezes fica difícil porque existem muitos interesses em jogo, mas sem Lula seria muito mais complicado ¿ resumiu um funcionário do governo boliviano.