Título: REELEIÇÃO É MAIS `CONFORTÁVEL¿ PARA EUA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 21

Governo americano endossa preferência por vitória de Lula em nome de `bom entendimento e fortalecimento de laços¿

WASHINGTON. Por determinação superior, nenhum funcionário do governo dos Estados Unidos faz comentários públicos sobre as eleições no Brasil. Alguns, porém, falam a respeito confidencialmente. E deixam claro que, embora uma eventual vitória de Geraldo Alckmin fosse bem-vinda, Tio Sam estaria mais à vontade com a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ Não é que exista uma torcida. Mas a impressão é a de que o destino já está traçado: Lula vence. E, no fundo, esse resultado é mais confortável para nós: temos um entendimento excelente com ele, e a perspectiva é a de que os nossos laços se fortalecerão ¿ disse uma das pessoas ligadas à Casa Branca consultadas pelo GLOBO.

O mesmo endosso foi dado no Congresso dos EUA, embora todos estejam muito mais ocupados com a própria sorte ¿ dia 7 há eleições para a troca total dos 435 assentos na Câmara e um terço (33) no Senado.

¿ Lula provou ser um líder confiável, de palavra, bem-intencionado e capaz, apesar dos escândalos. Para nós, é o bastante. Sentimos que há espaço para expandir nosso relacionamento com o Brasil através dele ¿ disse um integrante da Comissão de Relações Exteriores.

O brasilianista Kenneth Maxwell destacou a ironia de tais comentários em relação ao que se dizia há quatro anos:

¿ Falava-se na perspectiva de um desastre. Para alguns aqui, em especial no Capitólio, Lula era parte de um eixo do mal latino-americano junto a Fidel Castro e Hugo Chávez. Hoje ninguém sequer se lembra disso.

Quanto à possibilidade de Lula ter novo mandato, Maxwell disse que este período talvez servisse para o país cair na real em relação ao seu próprio peso político. É que, em sua opinião, Lula tem uma visão mais acertada sobre a importância do Brasil, e poderia continuar colocando o país em destaque:

¿ A elite brasileira não gosta de Lula porque ele crê que o Brasil é grande, importante, tem um papel a cumprir. Ele tem razão. O próprio Brasil ainda não se convenceu disso, não tem idéia do seu peso e sua influência. Ainda não percebeu sua importância; Lula sim.

Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, centro de estudos do qual Fernando Henrique Cardoso é um dos diretores, pensa da mesma forma. Mas aponta uma contradição na política externa: ao mesmo tempo em que o país procura a solidariedade do terceiro mundo e a hegemonia na América do Sul, mantém-se distante dos EUA.

¿ Embora as relações sejam muito boas, o Brasil sempre evitou envolvimento sério com os EUA. Se houvesse cooperação maior, os resultados seriam bem melhores, em todas as áreas, para ambos ¿ disse ele.