Título: FROSSARD, DO ISOLAMENTO AO CORPO-A-CORPO
Autor: Cássio Bruno e Ludmilla de Lima
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 26

Presença maior nas ruas e reconciliação com Alckmin marcaram última semana de campanha da candidata

A última semana de campanha da candidata do PPS ao governo do estado, Denise Frossard, foi marcada pela surpresa. Apesar da desvantagem nas pesquisas, a deputada passou três dias isolada com assessores num ¿bunker¿ em Botafogo, de onde só saiu para dar rápidas entrevistas. Quando resolveu pedir votos nas ruas, pareceu esquecer o favoritismo do peemedebista Sérgio Cabral: esbanjou empolgação, ensaiou passos de dança ao som de um jingle com críticas ao rival, distribuiu beijos e abraçou crianças, idosos e deficientes físicos. Ontem, depois de quase um mês sem ver o tucano Geraldo Alckmin, Frossard celebrou a reconciliação numa churrascaria no Flamengo. A imprevisibilidade dos últimos passos da candidata remete ao primeiro ato do segundo turno, quando, irritada com as fotos do aliado com o casal Garotinho, chegou a pregar o voto nulo para presidente.

Criticada por ter concentrado a caça aos votos na capital, a deputada acordou cedo na segunda-feira para percorrer seis cidades do Sul Fluminense. Para encerrar a maratona eleitoral antes do pôr-do-sol, o taxista João Batista da Silva, que transporta Frossard há quatro meses a bordo de um Quantum 98, chegou aos 130 km/h na Rodovia Presidente Dutra ¿ onde a velocidade máxima permitida é de 110km/h. A estratégia de caminhadas-relâmpago esbarrou no estilo da candidata, mineira de Carangola, que não dispensa uma boa prosa com o eleitor. A demora para percorrer pequenos trechos a pé levou ao desespero o deputado estadual reeleito André Corrêa, do PPS, que anunciava a passagem de Frossard com um megafone.

¿ Vamos embora, vamos embora ¿ implorava ele, tentando evitar que a candidata falasse com jornalistas.

Pausas para cumprimentar policiais e retocar o batom

Os apelos do aliado onipresente não surtiram efeito. Como tem feito desde o início da campanha, Frossard entrou em cada loja para cumprimentar vendedoras atrás do balcão, pediu votos a policiais militares ¿ que costumam saudá-la batendo continência ¿ e aproveitou a passagem por salões de beleza para retocar o batom e ajeitar o penteado.

Cercada pela teia de alianças do adversário no interior do estado, Frossard não foi recebida pelos prefeitos dos seis municípios que visitou. Para compensar a falta de apoio local, levou do Rio o vereador Carlo Caiado e o deputado estadual eleito Rodrigo Dantas. Afilhados políticos do prefeito Cesar Maia, os pefelistas circulavam anônimos entre os eleitores que tentavam apertar a mão da candidata.

Na excursão pelo Sul Fluminense, o táxi de João Batista rodou 850 quilômetros ¿ distância equivalente a uma viagem do Rio a Curitiba. No dia seguinte, para alívio do motorista e desespero dos aliados, Frossard voltou a surpreender: anunciou que suspenderia a campanha de rua. Até o debate da TV Globo, na noite de quinta-feira, seu itinerário seria reduzido a curtos trajetos entre o apartamento, na Fonte da Saudade, e o ¿bunker¿ da campanha, num edifício em Botafogo, com escalas para gravar o programa de TV no Humaitá. Frossard negou que a fuga das ruas fosse sinal de desânimo com o favoritismo de Cabral.

¿ A imprensa tem me demandado muito. Não posso estar a todo momento na rua ¿ justificou.

Na quarta-feira, véspera do debate final, a candidata se dividiu entre reuniões a portas fechadas e gravações para o programa eleitoral. Mesmo sem agenda externa, foi personagem da principal notícia do dia, ao divulgar na internet a lista de seus doadores de campanha ¿ sem, no entanto, informar as quantias arrecadadas com cada um. Poucos dias antes, Frossard se recusara a revelar os nomes dos doadores, alegando que a medida significaria um ¿desrespeito ao Judiciário¿.

Preocupada com a repercussão do seu desempenho no debate da TV Bandeirantes, a deputada passou a quinta-feira entre planilhas e recortes de jornais para tentar surpreender o adversário na arena da Globo. Repetindo a mania de não comentar as pesquisas ¿ nem quando estava em alta, no primeiro turno ¿ ela se recusou a avaliar o confronto. Mas pareceu animada: no dia seguinte, tomou novo ¿banho de povo¿, num exaustivo dia de campanha na Zona Oeste do Rio.