Título: A MARATONA DE CABRAL PARA DEIXAR LONGE A ADVERSÁRIA
Autor: Cássio Bruno e Ludmilla de Lima
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 26

Para cumprir agenda na última semana, Sérgio Cabral, candidato ao governo, faz corpo-a-corpo às pressas

O físico está longe de ser o de um atleta, mas o candidato ao governo do Rio pelo PMDB, Sérgio Cabral, enfrentou uma verdadeira maratona nesta reta final para o segundo turno, apesar da folgada vantagem sobre a adversária do PPS, Denise Frossard. Só na última semana de campanha, foram 12 cidades percorridas, a maioria em visitas-relâmpago que não duraram mais de 15 minutos. Tempo suficiente para o senador pedir votos, fazer discursos e beijar eleitores.

Cabral deu atenção especial a municípios da Baixada Fluminense e Niterói. As duas regiões, por sinal, contrastam quando o assunto é desempenho nas urnas. Enquanto no primeiro turno Cabral venceu nas 13 cidades da Baixada, em Niterói o candidato ficou em segundo lugar, atrás de Frossard.

¿Eu não faço governo para romper ou não romper¿

Sempre sorrindo e cercado por seguranças, Cabral caminhou pelas ruas ao lado de novos seguidores, como a coordenadora da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Benedita da Silva. O senador só perdeu o bom humor nas vezes em que foi questionado sobre a sua aliança com a governadora Rosinha e com o ex-governador Anthony Garotinho, ambos de seu partido, o PMDB.

¿ Eu não faço governo para romper ou não romper. Não venha com pergunta maliciosa. Com pergunta capciosa, melhor dizendo. É uma pergunta absolutamente maldosa ¿ esbravejou o senador, em Nova Iguaçu, na última semana, depois de ser indagado sobre a declaração do deputado estadual Paulo Ramos (PDT), que afirmou ter expectativa de que Cabral rompa a aliança com o casal Garotinho.

Cabral também mostrava pouca paciência quando se deparava com imagens suas ao lado do candidato à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB) em propagandas eleitorais, como adesivos, panfletos e cartazes. E manteve a mesma resposta sobre aliados que fazem campanha para o tucano:

¿ Não tenho como controlar. Meu candidato é o presidente Lula.

Na corrida para confirmar o favoritismo, Cabral deixou de percorrer cidades na caçamba de uma caminhonete, como fizera ao longo da campanha, e preferiu gastar sola de sapato. A pé, ele não abriu mão de falar com quem encontrava pela frente. Em sua visita ao calçadão do Méier, na Zona Norte, quarta-feira, o senador cumprimentou até uma assessora, que se apressou para justificar o ato.

¿ Foi meu aniversário ¿ explicou ela.

O peemedebista também correu para ampliar seu leque de alianças. Até 1º de outubro, Cabral tinha oficialmente o apoio de PP, PTB, PSC, PL, PAN, PMN, PTC e Prona, mas, no segundo turno, o senador posou como o candidato de setores tradicionais da esquerda. Os últimos a aderirem à sua campanha foram deputados eleitos do PDT, partido que decidiu pela neutralidade. Também estão com ele PT, PCdoB, PSB e ainda parte do PV.

¿ O calendário é estadual. O que está ocorrendo neste segundo turno é a união das forças progressistas em torno da minha candidatura ¿ disse Cabral durante a campanha, classificando a adversária Denise Frossard de representante do campo conservador.

Várias correntes num mesmo palanque

O senador conseguiu até selar a paz, pelo menos por alguns momentos, entre tradicionais adversários em cidades por onde andou. Em Angra dos Reis, por exemplo, petistas e peemedebistas deixaram a rivalidade e ficaram de mãos dadas com Cabral.

Em Niterói, Cabral teve o apoio de potenciais adversários para a sucessão municipal em 2008, como o ex-prefeito da cidade Jorge Roberto Silveira (PDT); do secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer (PMDB); e do grupo liderado pelo atual prefeito, Godofredo Pinto (PT).

¿ Estou honrado com todos os apoios que recebi. Isso é consequência da minha trajetória. Construí isso durante uma vida de trabalho ¿ disse Cabral.