Título: NO RS, OLÍVIO CRESCE E AMEAÇA YEDA
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 29/10/2006, O País, p. 32

Em ritmo de Grenal, eleição gaúcha repete polarização nacional entre tucanos e petistas e debate privatizações

PORTO ALEGRE. Reproduzindo a polarização nacional entre PT e PSDB, a escolha do novo governador no Rio Grande do Sul não fugirá à tradição das últimas eleições no estado, com a disputa voto a voto aumentando a expectativa na reta final da campanha. O petista Olívio Dutra, que começou a campanha do segundo turno com desvantagem de quase 30 pontos nas pesquisas, se recuperou e encostou na tucana Yeda Crusius. Ela se mantinha à frente nas pesquisas até sexta-feira, mas tucanos e petistas reconhecem que o resultado das urnas poderá surpreender ¿ assim como no primeiro turno, quando o governador Germano Rigotto (PMDB), que liderava a disputa, ficou de fora.

¿ Tradicionalmente no Rio Grande do Sul as eleições são polarizadas, mas trabalhamos com a perspectiva de virada ¿ disse o deputado estadual Raul Pont, secretário-geral do PT.

¿ Aqui tudo vira Grenal. A situação está boa para nós, mas a decisão será por margem pequena ¿ afirmou o deputado federal Nelson Proença (PPS), aliado de Yeda, referindo-se à disputa entre os principais times de futebol do estado, Internacional e Grêmio.

Desafio é equilibrar finanças estaduais

O maior desafio do futuro governador do Rio Grande do Sul é equilibrar as finanças do estado e recuperar a economia gaúcha, abalada pela crise no agronegócio. O orçamento estadual tem déficit de R$1,5 bilhão, além de dívidas de curto prazo com prefeituras e fornecedores, estimadas em R$3 bilhões. A folha de pagamentos é comprometida com os inativos, que consomem 51% das despesas salariais.

Olívio promete recuperar o estado com austeridade fiscal, mas sem vender ¿um parafuso do patrimônio público", reduzindo impostos para incentivar investimentos privados.

A receita da candidata tucana para rigor fiscal combina indução do desenvolvimento a partir de incentivos à agricultura e às exportações. Segundo Yeda, embora tenha participado dos governos Alceu Collares, Antônio Britto e Germano Rigotto, oferecendo o vice neste último, o PSDB não integrava o núcleo de poder.

A campanha tucana mexeu nas feridas petistas. Responsabilizou Olívio pela decisão da Ford de se instalar na Bahia e não no Rio Grande do Sul, tirando do estado investimento privado que geraria cerca de 100 mil empregos. Até hoje o assunto não foi assimilado pelos gaúchos, que responsabilizam Olívio, então governador, pela decisão da montadora.

¿ Nesses últimos anos, o estado fez a política do pires na mão. Mostramos que lideramos um jeito novo de fazer política. As cartas estão postas e não vejo nada que possa mudar a expressão normal de divisão de votos no estado ¿ disse Yeda.

A tática petista seguiu a estratégia nacional: vincular Yeda à política de privatização do PSDB, afirmando que o Banrisul (o banco estadual) estaria sob ameaça no eventual governo tucano. Lembrou votações da deputada no Congresso, especialmente o projeto de flexibilização da CLT, no governo Fernando Henrique Cardoso, dizendo que Yeda defende a retirada de direitos dos trabalhadores.

Olívio tenta associar tucana às privatizações

Governador de 1999 a 2003, Olívio diz que, no período, o Rio Grande do Sul cresceu acima da média nacional e acusa a adversária de ter apoiado governos que deixaram o estado ¿desmilingüido¿.

¿ Tenho uma visão de Estado que não é a da minha adversária. O patrimônio público deve ser preservado e não dilapidado. Ela é a candidata da privatização, dos planos de demissão voluntária e do desmonte da máquina pública ¿ disse Olívio, insistindo na tese de que o ideal é eleger um governador afinado com o presidente da República. ¿ Estamos construindo nossa eleição e a do presidente Lula. Nossa vitória será boa para o Rio Grande e para o Brasil.

Nas últimas semanas de campanha, além da presença dos ministros gaúchos Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais) na campanha de Olívio, o governo federal liberou obras no estado que estavam paradas. Entre elas, as rodovias BR-285 e BR-470, que já tinham recursos previstos no Orçamento da União, mas estavam embargadas por questões ambientais.