Título: TARSO: `ACABOU A ERA PALOCCI NO BRASIL¿
Autor: Chico Oliveira, Bernardo de la Pena e Ricardo Galh
Fonte: O Globo, 30/10/2006, O País, p. 8

Meta do primeiro ano do novo mandato, diz, será o crescimento econômico do país a uma taxa mínima de 5%

PORTO ALEGRE e SÃO PAULO. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, afirmou ontem, em Porto Alegre, que ¿acabou a era Palocci¿ e que a grande meta no primeiro ano do novo governo Lula será atingir crescimento econômico mínimo de 5%, associado com metas de inflação baixa.

¿ Acabou a era Palocci no Brasil. Até se pode dizer que, no primeiro ano, ele prestou bons serviços, mas taxas baixas de crescimento, preocupação neurótica com a inflação sem pensar em distribuição de renda e crescimento, isso terminou ¿ disse Tarso.

Para o ministro das Relações Institucionais, Palocci tinha uma visão conservadora de inflação, monetarista.

¿ Ele insistiu em querer manter apenas metas de inflação. E qual é a posição do presidente hoje? O que ele está defendendo? Um crescimento mínimo de 5% no ano que vem, pra ser combinado com metas de inflação baixa ¿ acrescentou Tarso.

Mantega: `Vamos crescer mais¿

Fora do governo desde março, quando foi atingido pelo escândalo da quebra do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, Palocci, recém-eleito deputado federal pelo PT de São Paulo, tornou-se ontem o exemplo do que ministros e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não querem que seja o seu segundo mandato. Para ministros e líderes petistas que foram ao hotel Intercontinental, em São Paulo, acompanhar Lula na apuração ontem à tarde, a política econômica rígida operada por Palocci foi necessária no início da gestão, mas está superada com a estabilização.

Embora tenha dito que sua permanência depende do presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Brasil entrou numa nova fase: a desenvolvimentista.

¿ Fizemos uma política econômica bem-sucedida no primeiro mandato. Mas entramos numa nova fase, onde vai ficar mais claro o caráter desenvolvimentista, com crescimento maior da economia. O desenvolvimentismo virá à tona, com crescimento acima de 5%, geração de mais empregos. Isso ficará mais marcado ¿ afirmou Guido Mantega.

O ministro chegou a dizer que não teria problemas de trabalhar com o ex-ministro Delfim Netto. Ele classificou Delfim de um ¿excelente economista¿, também desenvolvimentista, e que tem dado conselhos e sugerido propostas.

¿ O primeiro mandato foi uma fase de transição, você tinha vários desequilíbrios para enfrentar, não podia botar o pé no acelerador. É uma nova fase dentro da mesma política, é uma continuação, porém acentuando mais alguns aspectos do que outros. Vamos manter a estabilidade, a responsabilidade fiscal, porém vamos crescer mais.

Para a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governo não deixou de lado a preocupação com a estabilidade, mas está preparado para um novo modelo que permita a redução dos juros e maior crescimento.

¿ Aquela política tinha um sentido bastante claro e foi importante. O país estava com uma inflação de dois dígitos. Nesse sentido, o primeiro momento acabou porque concluímos um conjunto de ajustes. Isso não significa que estabilidade econômica deixe de ser um valor ¿ disse Dilma.

Cautelosa, ela destacou que a mudança não deve representar uma ruptura com o modelo anterior, como defendem setores do PT e, sim, uma evolução natural do governo.

¿ Diria que não haverá uma quebra, uma descontinuidade entre o primeiro mandato e o segundo ¿ disse.

Segundo Dilma, criar condições para que o país possa crescer pelo menos 5% no próximo ano deverá ser ¿uma das obsessões de uma agenda de Estado¿ para negociações com a oposição, incluindo o PSDB nos entendimentos. A ministra destacou, ao falar em Porto Alegre, depois de votar, que o novo governo Lula será baseado em um entendimento amplo:

-¿ A orientação do presidente é que, logo após as eleições, tenhamos em relação aos demais partidos, notadamente o PSDB, uma atitude de entendimento, que trabalhemos para que haja uma agenda nacional que seja do interesse de todos, uma agenda de Estado, e as questões relativas ao desenvolvimento do país, à melhoria das condições de vida do seu povo, interessem a todos os partidos.

Criar condições para um maior crescimento do país deve ser prioridade no processo de entendimento, que Dilma chamou de concertação, porque vai exigir algumas reformas, tanto a política como a tributária.

¿ O país tem de crescer hoje em torno de 5%. Esta é uma das obsessões de uma agenda de Estado. Para isso, várias medidas são necessárias, tanto na esfera tributária, como na esfera de uma reforma política ¿ destacou a ministra, que inclui os ¿setores conseqüentes¿ do PSDB, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nos entendimentos pós-eleição. ¿ Os setores conseqüentes do PSDB, os governadores, muitos deputados e senadores, e inclusive o próprio ex-presidente Fernando Henrique têm sinalizado nessa direção.

Entre as questões não negociáveis para o governo Lula, disse Dilma, estão a política social do governo e a distribuição de renda. E isso, segundo ela, também pode ser comum porque está contribuindo para o crescimento do país:

¿ Incorporar milhões de brasileiros que não têm sequer renda, que vivem abaixo da linha da pobreza, é incorporá-los como cidadãos e consumidores.

Wagner pede queda de juros

O presidente nacional do PT e coordenador da campanha da reeleição de Lula, Marco Aurélio Garcia, também afirmou que no segundo mandato o foco deve passar da estabilidade para a o crescimento.

¿ Já houve mudança na política econômica que agora está permitindo não só o equilíbrio fiscal mas também a distribuição de renda e o crescimento. Entramos, já no fim do ano passado e durante este ano, em uma nova etapa que nos permite tirar os ganhos daquela política de estabilidade. Temos que marchar sem dúvida nenhuma para um crescimento forte ¿ disse.

Segundo o governador eleito da Bahia, Jacques Wagner, falar em fim da Era Palocci é injustiça, mas a adoção de uma política que permita a queda mais acelerada dos juros é reivindicação de toda a sociedade.

¿ Não se pode negar nunca a contribuição do ministro Palocci na instauração do nosso governo. Mas o que o PT pede é o que toda a sociedade pede, dos empresários aos trabalhadores, que é uma política que permita o crescimento. Não acho que para o presidente Lula a política econômica seja um dogma.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que a questão não se resume a Palocci:

¿ Isso é uma bobagem. O Palocci não é mais ministro. O ministro é o Guido. Precisamos fazer a transição para termos mais crescimento.

(*) Enviado especial