Título: GOVERNO JÁ SE DIVIDE SOBRE RUMOS DA ECONOMIA
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 30/10/2006, O País, p. 9

Grupo de Mantega quer acelerar crescimento; já Meirelles e petistas ligados a Palocci defendem política ortodoxa

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sabe que um dos principais problemas que terá pela frente é resolver se haverá mudanças na equipe econômica e qual será seu perfil nos próximos quatro anos. Devido às pressões que já começam a surgir tanto do núcleo de poder no Palácio do Planalto como da ala do PT que saiu fortalecida das eleições estaduais, este será um grande desafio do presidente.

Lula já decidiu que vai manter o núcleo de poder no Palácio do Planalto, tendo como fiéis escudeiros os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), por exemplo. Mas, nos últimos dias, Lula ficou irritado ao saber das pressões para a troca do ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmando que não era o momento para esse tipo de discussão.

De um lado, há no governo o grupo do próprio Mantega e de ministros como Dilma e Tarso em favor de acelerar o crescimento ¿ mexendo inclusive na política de juros ¿ e de já alcançar a meta de 5% em 2007, sendo que a média nos primeiros quatros anos foi de 2,25%.

De outro, há defensores da manutenção da ortodoxia da política econômica, mantendo o ritmo das ações (em juros e na área fiscal) para chegar ao mesmo resultado, mesmo que em prazo mais longo. Deste lado estão o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e petistas ligados ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, com o discurso de que mudanças bruscas poderiam afetar a credibilidade do Brasil.

¿ Isso não vai ser uma sangria desatada. O presidente tem até o mês de dezembro e é preciso ver como ficará a situação política ¿ disse o governado eleito da Bahia, Jaques Wagner.

Lula costuma ter total confiança nas avaliações de Dilma e Tarso. Segundo alguns ministros que estiveram com ele nos últimos dias, o presidente não estaria inclinado a mexer em Mantega. Ele já decidiu, por exemplo, manter Paulo Bernardo no Planejamento, embora o ministro seja defensor do rigor fiscal.

No seu núcleo de confiança, Lula também terá a difícil tarefa de substituir Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça. Ontem, Bastos reiterou publicamente que vai deixar o governo. O nome preferido de Lula para o cargo é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, ligado ao PMDB e que foi o primeiro ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995. Se Jobim não aceitar, o próprio Tarso, que é advogado, poderia ser remanejado para a pasta.

Em seu segundo mandato, Lula vai congelar o poder do PT e abrir as portas do ministério para o PMDB e outros partidos aliados. Segundo integrantes do governo, o novo ministério será de coalizão. Dentro do PMDB, Lula sonha em fazer um acordo com todo o partido, apesar das divisões históricas no partido.

Petistas derrotados não terão guarida em ministério

Outra decisão de Lula é não transformar o ministério em refúgio para petistas derrotados, como Olívio Dutra, que perdeu o governo do Rio Grande do Sul para a tucana Yeda Crusius. Mas o governador do Acre, Jorge Viana, é dado como certo no novo governo. Lula também pretende manter Patrus Ananias no cobiçado Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, apesar de o cargo ser cobiçado até mesmo por petistas como Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, que pode vir a integrar o governo.

¿ A chance de Patrus sair é zero ¿ disse um interlocutor do presidente.

Mas Lula também deverá remanejar alguns ministros de Pasta. Há ministros considerados curingas, além de Tarso, como Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Walfrido dos Mares Guia (Turismo).

¿ Ministros que foram bem podem ser remanejados para dar uma sacudida na equipe ¿ disse o amigo de Lula.

Tarso Genro tem dito que Lula vai discutir com os partidos como instituição e com base em critérios, como currículo das pessoas condizente com a função almejada:

¿ O presidente é que vai dar o ritmo (da composição do ministério). Certamente, logo após o descanso, o presidente vai fazer pessoalmente esta ponte com os partidos políticos e comandar a formação do ministério. Ele não vai delegar para ninguém, e seria um equívoco se ele o fizesse.

Presidente quer ¿civis¿, mas com experiência

Além de integrar ainda mais o PMDB no ministério, que hoje tem três pastas, Lula também quer trazer pessoas da sociedade civil para seu governo. Mas, nesse caso, as pessoas teriam que já ter algum tipo de experiência administrativa, porque Lula foi muito criticado pela inexperiência de vários ministros.