Título: FESTA DO `MUITO OBRIGADO¿ DE ALCKMIN VIRA VALE DE LÁGRIMAS
Autor: Rafael Gomes e Marcel Frota
Fonte: O Globo, 30/10/2006, O País, p. 14

Clima no salão do Espaço São Paulo lembrava o fim de Brasil e França na última da Copa; até seguranças foram dispensados

SÃO PAULO. Tom, o cantor internacional, tentou, mas a interpretação de ¿La Bamba¿ não levou uma única pessoa ao salão do Espaço São Paulo, no Alto de Pinheiros, escolhido para a festa do ¿muito obrigado¿ de Geraldo Alckmin. O clima lembrava o fim de Brasil e França, na última Copa do Mundo. Os tucanos que apareceram faziam rodas. Alguns choravam.

¿ Nada de tristeza, de cabeça baixa. Temos que levantar a cabeça. Vamos lá ¿ esforçava-se, ao microfone, Claudinei Queiróz, militante do PSDB.

Inútil. A professora Amélia Rodrigues Ladeia não conseguia segurar as lágrimas. Como muitos presentes, ela, que se orgulha de ser fundadora do PSDB, explicava a derrota de seu candidato.

¿ O povo acreditou nas mentiras. Perdeu a esperança ¿ repetia, enxugando os olhos com as costas das mãos.

Telões anunciavam o primeiro resultado parcial das urnas: 61% para Lula contra 39% para Alckmin. Em duas mesas largas, dezenas de copos de refrigerante e de amendoim permaneciam intactos. Num canto, o coordenador da campanha em São Paulo, vereador Geraldo Natalini, resumia com humor a razão da derrota.

¿ Faltou voto. No fim do primeiro turno, chegamos a acreditar que dava para ganhar. O eleitor decidiu diferente. Suas necessidades primárias superaram outras.

Ninguém arriscou prever o futuro de Alckmin. Uma militante citou a hipótese de disputa da prefeitura em 2008. Unânime era a referência a uma espécie de herói-vingador:

¿ José Serra. É um vencedor. Depois de perder para Lula, ganhou duas eleições. Se tivesse concorrido no lugar do Alckmin, a história seria outra ¿ disse a psicóloga Regina Ávila.

Primeiro dos tucanos mais conhecidos a chegar, o ex-ministro Paulo Renato Souza preferiu evitar explicações:

¿ Hoje, não é possível identificar erros. Precisamos sentar e conversar. Perdemos porque não tivemos a iniciativa, ficamos o tempo todo na defensiva. O PSDB precisa refletir sobre o processo de privatização.

Dos 45 seguranças contratados para a festa, 23 tinham sido dispensados antes das 20h. A sala de imprensa permanecia apagada. Só depois das 21h os militantes sorriram, com a chegada do governador eleito em São Paulo, José Serra.