Título: CRESCE O DESEMPREGO ENTRE OS JOVENS
Autor: Patricia Duarte e Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 30/10/2006, Economia, p. 38

Estudo da OIT revela o problema crescente no Caribe e na América Latina

BRASÍLIA e RIO. Com escolaridade e qualificação técnica baixas, o jovem vem enfrentando problemas de desemprego cada vez maiores na América Latina e no Caribe. Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que a taxa de desemprego entre as pessoas com 15 a 24 anos passou de 14,4% para 16,6% na última década, o que representa entre 7,2 milhões e 9,5 milhões a mais de jovens procurando emprego sem sucesso.

No Brasil, explicou o diretor-adjunto da OIT no país, José Carlos Ferreira, o cenário é ainda pior, com desemprego nessa faixa etária de 19,1% e dados ainda mais perversos entre mulheres e negros. Ele usou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2005:

¿ Há muita concentração de pobreza nessas regiões (América Latina e Caribe), além de baixa formação educacional e técnica.

No mundo, há 85 milhões de jovens desempregados, 124 milhões que trabalham e ganham menos de US$1 por dia e 308,4 milhões que vivem com menos de US$2, mostrou ainda o estudo ¿Tendências Mundiais do Emprego Juvenil¿, da OIT. A situação vem piorando: em 1995, eram 74,3 milhões de jovens desempregados. Seriam necessários 400 milhões de empregos decentes para aproveitar o potencial dessas pessoas.

A taxa de desemprego entre jovens, segundo a OIT, é mais do que o dobro da taxa geral, de 7,7%, na América Latina e no Caribe. Os jovens representam 44,7% de todos os desempregados da região, apesar de formarem apenas 26,9% da população em idade de trabalhar. Ferreira lembra que a idade mínima para uma pessoa ser empregada legalmente no Brasil é de 16 anos.

No estudo, a OIT conclui que a escassez de empregos faz com que muitos aceitem estar subempregados ou, por desalento, abandonem a força laboral e fiquem inativos. A saída, acrescenta o diretor-adjunto, é aumentar os investimentos em educação, bem como melhorar a expansão da economia.

¿ Não basta a economia crescer. O jovem deve ser qualificado, voltado para áreas específicas, como tecnologia. Tem de olhar que tipo de emprego está sendo gerado para garantir competitividade ¿ diz Ferreira, para quem uma taxa de desemprego normal deveria oscilar perto dos 3%.

Discriminadas, mulheres sofrem mais com desemprego

A situação de desemprego é mais sensível entre as mulheres jovens no Brasil. Segundo Ferreira, a taxa de desemprego nessa faixa é de 24,7%, enquanto para os homens jovens é de 15%. Na avaliação do especialista, isso ocorre ainda por conta da maior discriminação que as jovens sofrem:

¿ Chama ainda mais a atenção, porque, em geral, as mulheres têm mais escolaridade do que os homens.

O mesmo problema surge quando a estatística envolve raças. O desemprego entre jovens negros no Brasil está em 20,4%, contra 17,7% entre os brancos. Além disso, se 57,4% dos jovens empregados, em geral, trabalham sem carteira assinada, o número sobe para 65,8% entre os negros e cai para 48,4% entre os brancos.

No Brasil, o desemprego chegou a 40,9% na faixa dos 15 aos 17 anos em setembro de 2003 e ficou em 24,5% para quem tinha entre 18 e 24, de acordo com o IBGE, que mede a taxa em seis regiões metropolitanas. A taxa caiu para 31,8% e 21%, respectivamente. O economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que é preciso estimular o jovem a concluir o ensino médio, para garantir uma renda futura maior.