Título: TRAGÉDIA AÉREA NA NIGÉRIA
Autor:
Fonte: O Globo, 30/10/2006, O Mundo, p. 40

Avião cai durante tempestade deixando cerca de 100 mortos e poucos sobreviventes

ABUJA, Nigéria

Um avião de linha comercial nigeriana que transportava 106 pessoas, entre elas o principal líder muçulmano do país, caiu ontem logo depois da decolagem em meio a uma forte tempestade. O acidente aconteceu perto do aeroporto da capital, Abuja. De três a sete pessoas teriam sobrevivido. Trata-se do quarto acidente aéreo grave no país em pouco mais de um ano.

O boeing 737 da companhia aérea doméstica ADC decolou na manhã de ontem de Lagos em direção à Sokoto, no noroeste do país, via Abuja. Após deixar alguns passageiros na capital, ¿o avião decolou do aeroporto de Nnamdi Azikiwe, mas, pouco depois, perdeu a sustentação e caiu¿, relatou uma fonte da aviação à agência de notícias AFP.

O avião caiu numa plantação de milho a pouco menos de três quilômetros do fim da pista do aeroporto. Segundo o ministro do Território da Capital Federal, Nasir el-Rufai, o acidente ocorreu em meio a uma tempestade. Ele acrescentou, no entanto, que somente uma investigação poderá determinar as causas do desastre.

Entre os passageiros estava o sultão de Sokoto, Muhammadu Maccido, líder dos cerca de 70 milhões de muçulmanos da Nigéria, segundo confirmou Mustapha Shehu, porta-voz do governo de Sokoto. Shehu informou ainda que o filho do sultão, o senador Mohammed Maccido, também estava no vôo, bem como Abdulrahman Shehu Shagari, filho do ex-presidente nigeriano Shehu Shagari, que governou o país entre 1979 e 1983.

Um repórter da agência Reuters que esteve no local do acidente contou ter visto diversos corpos queimados e pedaços de membros sendo retirados da fuselagem e jogados dentro de caminhões. Moradores da área que testemunharam o momento da queda, contaram ter ouvido gritos de socorro, mas nada puderam fazer porque o avião estava envolto em chamas.

Aeroportos e frota em estado precário

Apenas a cauda do avião, o motor e parte de uma asa eram reconhecíveis em meio a destroços completamente calcinados da aeronave espalhados pelo local do acidente. Os relatos sobre sobreviventes são contraditórios e, dependendo da fonte, o número varia. Baseando-se numa entrevista com um motorista de ambulância, a Reuters informa que cinco sobreviventes teriam sido levados para um hospital em Abuja, dois deles em estado crítico.

A população muçulmana da Nigéria corresponde a aproximadamente metade dos estimados 130 milhões de habitantes do país ¿ o mais populoso da África e o principal produtor e exportador de petróleo do continente.

O presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, ordenou, imediatamente, uma investigação sobre as causas do acidente, segundo informou em comunicado sua porta-voz, Remi Oyo. Ela disse que Obasanjo estava ¿profundamente chocado e triste e oferecia condolências a todos os nigerianos, em especial a parentes, amigos e pessoas ligadas àquelas que estavam a bordo¿.

Trata-se do quarto acidente aéreo grave ocorrido no país em pouco mais de um ano e especialistas apontam a falta de manutenção das aeronaves, a pouca fiscalização e as péssimas condições dos aeroportos como responsáveis pelas tragédias. Além disso, o tráfego aéreo na Nigéria mais que dobrou nos últimos anos, chegando a oito milhões de passageiros anuais, sem que o sistema aéreo se adaptasse ao aumento do fluxo. Testemunhas que estiveram no local do acidente de ontem disseram que o avião estava em péssimas condições e teria, inclusive, os pneus completamente carecas.

Quarto desastre grave em um ano

Em outubro do ano passado, 117 pessoas morreram quando o boeing 737 da Bellview Airlines caiu logo após a decolagem, em Lagos. Dois meses depois, um DC9 da Sosoliso Airlines caiu durante as manobras de pouso em Port Harcourt, matando 106 pessoas, metade delas estudantes que voltavam para casa para os feriados do Natal. Em setembro deste ano, dez generais e três outros militares morreram num desastre com um avião da força aérea do país no estado de Benue.

Num país em que 60% da população vivem na mais absoluta pobreza, apenas a pequena classe privilegiada, ao lado de políticos e autoridades, têm condições de voar.

A tragédia de ontem ocorreu um mês depois do anúncio de uma auditoria na aviação nigeriana. Após os acidentes do ano passado, o presidente ordenou que companhias aéreas e autoridades de aviação aprimorassem os padrões de segurança.