Título: `A REFORMA TRIBUTÁRIA É URGENTE¿
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 31/10/2006, O País, p. 13

Governador eleito de PE defende fim de fronteiras econômicas entre os estados

Após comemorar sua vitória pelas ruas de Recife, com carnaval que entrou pela madrugada, e dormir apenas três horas, o governador eleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), já estava trabalhando ontem de manhã. Ele indicou os nomes da equipe de transição e conversou com o presidente Lula por telefone. Fez sugestões polêmicas, como a realização de eleição em todos os níveis num mesmo ano, além de prometer lutar para acabar com a guerra fiscal.

Durante anos, os governos nordestinos promoveram uma guerra fiscal entre os estados para atrair indústrias, e ainda hoje concedem grandes inventivos fiscais. O que o senhor acha disso?

EDUARDO CAMPOS: O importante é que mantenhamos o nosso compromisso com a unidade do Nordeste. Felizmente, foi derrotado nas urnas um modelo implantado durante duas décadas e que, a meu ver, é totalmente equivocado, que foi a industrialização do Nordeste com guerra fiscal. A elite ¿moderna¿ (faz o sinal de aspas) pregava a guerra fiscal como único instrumento de desenvolvimento. Mas o recado que veio das urnas acena no sentido da reestruturação do pensamento político da região, sem o ranço do choro nem do regionalismo atrasado. Não queremos nem privilégios nem favores. O que o Nordeste quer é ter oportunidade de ajudar o desenvolvimento nacional.

Para isso seria necessário reerguer a Sudene?

CAMPOS: A Sudene foi vítima da visão atrasada que alguns governadores tiveram no momento de levantá-la. Mas ela tem que existir, para integrar políticas de desenvolvimento, com o estado como indutor e articulador da iniciativa privada. A integração é necessária.

Mas ela é possível sem uma reforma tributária?

CAMPOS: A reforma tributária é urgente e necessária. Mas não se faz do dia para a noite. Leva tempo, inclusive, para começar a ser executada. A reforma tributária é necessária para ativar a produção do Brasil, inclusive para que a periferia não continue funcionando como um exportador de renda para o centro econômico do Brasil. Também é preciso que sejam retiradas as fronteiras econômicas entre os estados.

E a reforma política também é necessária?

CAMPOS: Com certeza. É preciso rever o financiamento das campanhas políticas, a coincidência de mandatos, todas as eleições em um ano só, nem que seja em datas diferentes. Com o modelo atual, eleições a cada dois anos, o que ocorre é que os palanques nunca se desarmam. E não se constrói um ambiente de governabilidade desse jeito no Brasil.

O senhor é herdeiro do maior mito político da história de Pernambuco, o seu avô, o ex-governador Miguel Arraes. Isso aumenta sua responsabilidade?

CAMPOS: Na verdade, nunca me senti o simples neto do mito. Mas neto e também companheiro de um homem admirável, um guerreiro que viveu além do seu tempo, um visionário, um exemplo para minha geração. Ele me ensinou princípios que me permitiram estar aqui hoje. A responsabilidade que carrego é pela história, pela frente política que montamos e pela vitória que tivemos, a maior na História para governador em Pernambuco. Nunca ninguém tinha sido eleito aqui com tanto voto e com tanto apoio político relevante.

Como espera que se dê a transição?

CAMPOS: O governador José Mendonça Filho (PFL) já acenou para isso. Vai ser trabalho com discrição, para que não gere marola, mas sim muitos resultados.