Título: CPI OUVE HOJE TRÊS PETISTAS `ALOPRADOS¿
Autor: Jucimara de Pauda
Fonte: O Globo, 31/10/2006, O País, p. 15

STF negou hábeas-corpus preventivo a Lorenzetti e Gedimar; Valdebran não recorreu

BRASÍLIA. Dois dias depois de o presidente Lula ter sido reeleito, três petistas envolvidos na compra do dossiê contra políticos do PSDB estarão hoje de volta aos holofotes, em depoimento à CPI dos Sanguessugas. Deverão ser ouvidos, a partir das 14h, o ex-chefe do serviço de inteligência da campanha à reeleição de Lula Jorge Lorenzetti, o policial federal aposentado Gedimar Passos e o empresário Valdebran Padilha. Lula os chamou de ¿aloprados¿.

Lorenzetti e Gedimar recorreram ao Supremo Tribunal Federal para evitar o risco de serem presos durante a sessão. O ministro do STF Carlos Ayres Brito negou o hábeas-corpus, mas deixou claro em seu despacho que os interrogados poderão ser acompanhados pelos advogados e ficar calados diante de perguntas que não queiram responder. Os dois haviam pedido para ser ouvidos como investigados, o que, na prática, permite mentir, uma vez que nenhum réu é obrigado a produzir prova contra si. O requerimento da CPI previa que todos comparecessem como testemunhas, sendo obrigados a prestar juramento e, portanto, dizer a verdade.

Para Ayres Brito, não cabe ao STF determinar como serão os depoimentos à CPI. O ministro explicou que a comissão tem autonomia para decidir se os depoentes têm características de testemunhas ou de investigados. ¿Toda CPI detém poderes de instrução judicial, nos termos da Constituição de 1988. O que me leva a concluir que, assim como não é de se supor que um magistrado venha a exceder os limites de sua atuação funcional, também assim não é de se supor que uma CPI enverede pela mesma ilicitude¿, escreveu Ayres Britto.

Antes mesmo de saber a decisão do Supremo, o sub-relator da CPI dos Sanguessugas, deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), disse que a sessão de depoimentos será útil para a comissão organizar o que já sabe sobre o caso, independentemente de os acusados responderem ou não às perguntas.

¿ Vamos ter a oportunidade de fazer uma seqüência de perguntas e organizar o nosso trabalho. As investigações serão feitas pela Polícia Federal, com desdobramentos na Justiça Eleitoral ¿ disse Gabeira.

Valdebran foi o único que não recorreu à Justiça para calar-se no depoimento. O motivo, segundo o advogado Luiz Antonio Lourenço, é que seu cliente não teria o que esconder:

¿ Entendemos que o que ele tem a dizer não o compromete em nada. Ele vai falar tudo o que sabe ¿ disse o advogado.

Valdebran é filiado ao PT e foi preso em setembro num hotel em São Paulo, juntamente com Gedimar, quando ambos portavam R$1,7 milhão em notas de real e dólar, que seria usado na compra de um suposto dossiê contra os tucanos. Valdebran disse à PF que foi ao hotel a pedido da família Vedoin, com a missão de certificar-se de que os R$2 milhões inicialmente acertados seriam entregues pelos emissários do PT. Lorenzetti nega envolvimento com a transação financeira e afirmou que sua tarefa era apenas conferir a autenticidade dos documentos.