Título: QUATRO FIÉIS ESCUDEIROS FARÃO A TRANSIÇÃO
Autor: Fábio Vasconcellos
Fonte: O Globo, 31/10/2006, Rio, p. 16

Equipe que reúne colaboradores antigos tem como prioridade saber déficit financeiro

Quatro fiéis escudeiros do governador eleito, Sérgio Cabral, escolhidos para fazer parte da equipe de transição, já sabem quais serão suas missões a partir do próximo dia 8, quando começarão a trabalhar. Além de ajudarem a costurar alianças políticas, Régis Fichtner, suplente de Cabral no Senado; Luiz Fernando Pezão, futuro vice-governador; Wilson de Carvalho, coordenador da campanha do pemedebista; e Sérgio Ruy Barbosa, que deixará o cargo de secretário de Planejamento e Finanças de Duque de Caxias para ajudar Cabral, vão reunir informações sobre a situação do estado. A prioridade é descobrir logo qual o tamanho do déficit financeiro e saber detalhes dos projetos e obras que estão em andamento.

¿ A gente tem idéia do déficit, que deve ser de até R$1,5 bilhão, mas não temos dados precisos. Nosso primeiro passo será pedir informações detalhadas para o governo do estado ¿ diz Régis.

Planejamento dos três primeiros anos de governo é uma das metas

Doutorando em administração na Fundação Getúlio Vargas, Sérgio Ruy Barbosa terá como desafio levantar a estrutura das secretarias, descobrir o número de servidores, para mostrar ao governador eleito quais cortes, já prometidos por Cabral, poderão ser feitos. Com discurso mais acadêmico do que o dos companheiros, Sérgio ressalta a importância de fazer um planejamento do que será feito nos três primeiros anos de governo e, também, no último. O papel de ¿futurólogo¿ será dele:

¿ Vou analisar os dados, os caminhos apontados para o Rio, de acordo com cada cenário econômico, os diagnósticos possíveis para o estado. Vamos ver todos os subsídios que recebemos no período de campanha ¿ diz, referindo-se às análises do futuro do estado feitas, entre outros institutos, pela Macroplan, empresa que tem no currículo análises semelhantes feitas para o governo de Aécio Neves.

Hoje, os membros da equipe de transição vão à Fundação Getúlio Vargas, na Praia de Botafogo, conhecer as salas que ocuparão a partir da próxima semana. O endereço quebra uma tradição: embora tanto a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) quanto a Fecomércio tenham oferecido suas instalações, como já fizeram com sucesso em governos anteriores, a equipe de Sérgio Cabral preferiu a FGV. Segundo Régis, trata-se apenas de uma homenagem à instituição, que ele considera referência no pensamento nacional.

¿ Não é afastamento dos empresários. Estamos bem com a Firjan e Fecomércio ¿ diz.

Mas Sérgio Ruy Barbosa dá uma pista de que a escolha foi menos aleatória do que Régis sugere:

¿ É possível que técnicos da FGV ajudem no governo. É uma tradicional escola de administração pública e o governador está conversando com a presidência da FGV para ver isso.

Ontem, enquanto Sérgio e Régis descansavam no Rio, os outros articuladores da transição, Pezão e Wilson, devotos de Nossa Senhora Aparecida, foram com suas mulheres a Aparecida, no interior de São Paulo, agradecer o resultado das eleições. Por celular, enquanto acendiam velas, garantiram que não fizeram promessas para que Cabral ganhasse:

¿ Só viemos agradecer ¿ disse Wilson.

Já Pezão, que hoje vai a Brasília com o futuro governador para um encontro com o presidente Lula, disse que pretende, após a reunião, descansar até a semana que vem. Incumbido de fazer articulações políticas, ele jura que sequer sabe quem serão os futuros secretários de governo.

¿ Não ouvi o Sérgio falar em secretarias. Vai ter que ter muita articulação política ¿ diz, sincero.

Equipe conhece Sérgio Cabral há mais de 20 anos

Em comum, os quatro escudeiros têm, além da discrição quando se tenta arrancar alguma medida que Cabral adotará, grande intimidade com o governador eleito. Todos o conhecem há pelo menos vinte anos. Régis, suplente dele no Senado, foi colega de turma, no curso de direito da PUC, da primeira mulher de Cabral, Susana. Procurador de carreira, há dez anos, foi convidado por Cabral para ser procurador da Alerj, estreitando a convivência. Sérgio Ruy conheceu Cabral na década de 70, quando ambos eram presidentes dos grêmios nos colégios em que estudavam. Wilson também é amigo da época de escola. Pezão o conheceu num jogo de futebol em Piraí:

¿ Nem éramos políticos. Nos conhecemos numa pelada. Ele jogava muito melhor do que eu.