Título: ONU: MUNDO FALHA NA META DE REDUÇÃO DO NÚMERO DE FAMINTOS
Autor: Bruno Rosa e Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 31/10/2006, Economia, p. 25

Quantidade de pessoas que não têm o que comer voltou a crescer

ROMA. Dez anos depois de as lideranças políticas mundiais terem prometido reduzir à metade o número de famintos no mundo, não houve avanços na área, e a quantidade de pessoas que não têm o que comer voltou a aumentar, de acordo com um relatório divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), que organizou a Cúpula Mundial da Alimentação, em 1996, onde a meta foi estabelecida, disse que ainda existem 854 milhões de pessoas subnutridas no mundo, e que um em cada três habitantes da África subsaariana sofre de fome crônica.

¿ Lamento profundamente informar que a situação permanece intolerável e inaceitável, ainda mais do que era, porque dez anos se passaram ¿ disse o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, na entrevista coletiva em que apresentou o relatório.

Na cúpula de 1996, líderes mundiais prometeram reduzir à metade o número de famintos entre 1990 e 2015. Na metade do prazo, os números mais recentes indicam uma redução de apenas três milhões de pessoas, que não chega a ser estatisticamente relevante, segundo a FAO.

Diouf afirmou que, se a redução na fome continuar nesse ritmo, a meta da cúpula não será atingida nem em 2150. E, segundo ele, as tendências mais recentes indicam um aumento no número de famintos.

¿ Longe de cair, o número de pessoas famintas no mundo está aumentando, à taxa de quatro milhões ao ano ¿ disse.

Na primeira metade da década de 90, o número de famintos caiu no mundo todo até 26 milhões, mas voltou a subir na segunda metade. A situação é bem diferente das décadas anteriores. Nos anos 70, o número de famintos nos países em desenvolvimento caiu 37 milhões, e nos anos 80, 100 milhões.

¿ É quase natural chamar o período desde a cúpula de década perdida. Fazer isso, porém, seria um erro ¿ afirmou Diouf.

Até 2015, fome atingirá 10,1% da população

É que, embora o número de famintos não tenha caído, eles representam uma proporção cada vez menor da população global, e o mundo deve conseguir cumprir a Meta de Desenvolvimento do Milênio da ONU, que é de reduzir à metade, até 2015, a porcentagem de pessoas famintas em relação à população global, destacou o documento.

Até 2015, a fome atingirá 10,1% da população do mundo. Em 1990-92, o percentual era de 20,3%.

Mas, analisando regiões específicas, áreas da África e do Oriente não atingirão a meta do milênio. Em 2015, a África subsaariana responderá por 30% dos famintos do mundo. Em 1990, essa proporção era de 20%, disse a FAO.

O levantamento da ONU ressaltou a história de sucesso da China, que reduziu a população de famintos de 194 milhões, em 1990, para 150 milhões.

Apesar da falta de avanços para cumprir a meta da cúpula, a FAO disse que o objetivo ainda é alcançável, contanto que a agricultura no mundo em desenvolvimento seja aperfeiçoada.