Título: EFEITO CASCATA NOS PREÇOS
Autor: Bruno Rosa e Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 31/10/2006, Economia, p. 25

IGP-M sobe para 0,47% puxado pela alta das produtos agrícolas no atacado

Puxado pelo aumento dos preços no atacado, o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado, da Fundação Getulio Vargas) chegou a 0,47% em outubro, com alta de 0,18 ponto percentual em relação a setembro. A expectativa dos analistas ouvidos pelo Banco Central, de acordo com a pesquisa do Boletim Focus, era de que o índice ficaria em 0,28%. Uma das três taxas que compõem o IGP-M, o Índice de Preços por Atacado (IPA) bateu 0,65% ante 0,36% de setembro. E o que é pior: os aumentos já começam a ser sentidos no bolso do consumidor. A alta nos preços de óleo de soja, milho, trigo, carne bovina e frango já foi repassada ao varejo.

O resultado levou a FGV a alterar sua previsão para o índice no acumulado do ano ¿ de uma variação perto de 3% para um número mais próximo de 3,5%. A taxa acumulada do ano subiu para 2,73%, contra os 2,39% até setembro. Nos últimos 12 meses, o IGP-M está em 3,13%. A FGV também prevê aumento da inflação para 2007, que pode ficar entre 4% e 4,5%.

Óleo de soja subiu 8% no varejo

Segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, os preços dos produtos agrícolas no atacado e de tarifas devem ser os principais fatores que vão justificar o aumento da inflação no próximo ano.

¿ A inflação não vai dar a colher de chá que deu nesse ano. A desaceleração nos preços dos alimentos não tende a se repetir em 2007, que deve ter um repique em torno de um ponto percentual ¿ disse Quadros.

O IPA, um dos três índices que compõem o IGP-M e corresponde a 60% da taxa, foi fortemente afetado pelo item de matérias-primas brutas, que avançou 3,76% em outubro, ante 1,43% em setembro. As pressões vieram de produtos agrícolas como soja (+6,90), trigo (+17,42), milho em grão (+6,96), e carnes ¿ bovina (+5,66%) e aves (+7,31).

¿ O importante é saber se a tendência de alta nos preços da soja, por exemplo, vai continuar ou não. O aumento em outubro já foi sentido no preço do óleo de soja no atacado, que passou de -0,03% para 1,02% ¿ afirma Quadros.

De acordo com Genival de Souza Bezerra, diretor do Prezunic, a farinha de trigo e o arroz já acumulam aumento de 30% nos dois últimos meses. Para ele, as principais redes de supermercados do país estão segurando a alta para não prejudicar a rentabilidade dos negócios.

¿ Parte do repasse será apenas em novembro como o quilo do pão francês, que hoje é comercializado a R$3,90. Vamos reduzir nossa margem de lucro para não prejudicar o consumidor ¿ diz Bezerra.

No caso do óleo de soja, Genival ressalta que a rede já teve de repassar a alta: a marca Sinhá subiu de R$1,99, em setembro, para R$2,15. Uma alta de 8% no preço.

Segundo Quadros, da FGV, os reflexos da alta de bovinos e aves no atacado já foram sentidos pelo consumidor: o frango inteiro teve alta de 8,35% e o frango em pedaços subiu 5,53% em relação a setembro. De acordo com a Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, no entanto, a alta, durante o mês de outubro, chegou a 18,75% no quilo das aves. O quilo do frango subiu, em média, de R$1,60, no mês passado, para R$1,90.

¿ Apesar da alta de carne e frango durante outubro, devido a problemas com exportações, os preços começam a voltar ao patamar do mês passado. No caso das aves, é possível se adaptar à demanda em trinta dias ¿ diz José de Souza, presidente da Bolsa.

Bezerra, do Prezunic, lembra que o preço do quilo do frango (da marca Sertanejo) subiu 20% e é vendido a R$2,65. O preço da alcatra variou 15%, com o produto sendo comercializado a R$9,78.

Para novembro, os preços ao consumidor deverão ter alta e chegar a 0,40%, reflexo das altas no atacado em outubro. Este mês, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ficou em 0,10%. A alta no atacado não foi suficiente para compensar a queda de itens como cana-de-açúcar e óleos combustíveis. O Índice Nacional de Construção Civil (INCC) subiu de 0,09% para 0,18%. Algumas redes de varejo não quiseram comentar as altas de preços.