Título: ENVIO DE DINHEIRO DEVE AUMENTAR
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 31/10/2006, Economia, p. 27

Para economistas, em 2 anos investimento lá fora superará recursos externos

BRASÍLIA. A divulgação dos recentes dados das contas externas e do censo de capitais já faz com que alguns economistas prevejam que, em até dois anos, o Brasil invista no exterior em atividades produtivas um volume maior de recursos do que o dinheiro que os outros países direcionam para cá. Segundo o Banco Central, de janeiro a setembro o Brasil recebeu US$11,9 bilhões em investimentos estrangeiros diretos e enviou US$ 9,4 bilhões ¿- valores que se aproximam em ordem de grandeza pela primeira vez.

O investimento brasileiro no exterior está mais consistente e diversificado. Os especialistas, por isso, apostam que estes volumes tendem a crescer nos próximos anos.

¿ Operações como a compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce tendem a acontecer cada vez mais, deixarão de ser um fato isolado ¿ diz Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Banco Pátria de Negócios.

Para ele, o fluxo dos investimentos brasileiros no exterior superará o ingresso dos recursos externos no Brasil em dois anos ou até menos, dependendo do avanço das transnacionais verde-amarelas.

Edgar Pereira, economista-chefe Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirma que, se nada alterar o cenário, a transformação da posição do Brasil vai virar realidade. Ele aponta a perspectiva de uma taxa de crescimento medíocre do país como principal indutor do movimento.

¿ O dado em si é ruim, pois o país precisa de recursos para crescer. Contudo, os investimentos brasileiros no exterior são positivos para o país, na medida em que aumentam a competitividade das empresas nacionais e garantem fluxos futuros de remessas lucros ¿ avalia.

Empresas podem passar a ser mais fortes

Para Alexander Xavier, economista-chefe da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), não é certo afirmar que o Brasil passará a ser investidor só por um eventual déficit no fluxo na conta de investimentos externos:

¿ Ainda é cedo. No fim de 2004, o estoque de recursos estrangeiros no Brasil estava na casa de US$195 bilhões. Já os investimentos brasileiros lá fora somaram US$71,7 bilhões.

Para Fernanda de Nigri, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), também não é certo que essa inversão vá realmente ocorrer. Mas, para ela, se esse cenário se concretizar, a mudança de lado no Brasil não é tão ruim assim. Isso porque o Brasil, em troca, terá empresas mais globais, mais fortes. Ela também lembra que o investimento estrangeiro aqui nem sempre significa aumento do parque industrial. Há diversos casos em que houve apenas compra de ativos, algumas vezes até com a redução da produção nacional ou a criação de produtos menos inovadores:

¿ Temos ainda que lembrar que os investimentos brasileiros no exterior garantem uma corrente futura de lucros e dividendos entrando no país.