Título: BRASILEIRO INVESTIU NO EXTERIOR US$111,7 BI EM 2005
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 31/10/2006, Economia, p. 27

Estoque cresceu 20% frente ao ano anterior, diz BC. Recursos aplicados em atividades produtivas somaram US$79,2 bi

BRASÍLIA. O brasileiro, tanto pessoa física quanto jurídica, continua investindo mais no exterior. Levantamento divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostra que o estoque de capitais nacionais lá fora fechou 2005 a US$111,741 bilhões, quase 20% mais do que os US$93,243 bilhões do ano anterior. De modo geral, são investimentos financeiros, como ações e títulos, e em empresas. Os recursos destinados a atividades produtivas, por exemplo, somaram US$79,259 bilhões no ano passado, 14,54% de crescimento no período.

Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, as empresas nacionais buscam criar braços no exterior aproveitando o melhor momento da economia mundial, com crescimento mais sólido, além da integração comercial. Pesam ainda as exportações mais fortes nos últimos meses, levando as companhias daqui a trabalharem para ter mais proximidade dos centros consumidores internacionais. Este ano, por exemplo, a compra da canadense Inco pela Vale do Rio Doce, que pode chegar a US$17,5 bilhões, certamente vai inflar o próximo levantamento do BC.

¿ Hoje o mercado externo é negócio ¿ avaliou Lopes.

Dinheiro vai primeiro para paraísos fiscais

A maior parte desses investimentos, detectou o BC, foi para as países considerados paraísos fiscais. Para as Ilhas Cayman, no ano passado, foram US$15,113 bilhões, enquanto que para as Bahamas, mais US$7,449 bilhões. Lopes argumenta que esse tipo de procedimento é usual e esses lugares são apenas uma passagem, por opção tributária de cada companhia. Num segundo momento, esse capital acaba indo para outros países onde o investimento direto se dá. A autoridade monetária, no entanto, não sabe para onde os recursos seguiram.

O setor financeiro, leia-se bancos, é o que mais recebeu investimentos brasileiros no ano passado, chegando a um estoque de aproximadamente US$32 bilhões. A pesquisa do BC recebeu 12.366 declarações nos últimos meses de pessoas físicas e jurídicas no país e que tinham qualquer ativo fora do território nacional a partir de US$100 mil em 2005. Do total, foram 10.733 pessoas físicas, com volume de US$24,336 bilhões, e 1.633 empresas, com US$87,407 bilhões.

Para títulos, ações e outros ativos, foram US$9,5 bi

Os depósitos de capitais brasileiros no exterior foram os que mais cresceram em 2005: 63,9% sobre o ano anterior, somando US$17,077 bilhões. O chefe de departamento do BC explicou que esse movimento veio, entre outros, da compra de dólares para o programa de recompra de títulos implementado em 2003 pelo Tesouro Nacional. O objetivo é garantir recursos para arcar com os vencimentos das dívidas no ano seguinte e, por isso, dependendo do calendário, os depósitos lá fora crescem. Segundo Lopes, as compras de 2005 para o serviço da dívida deste ano somaram US$5,7 bilhões.

No quesito portfólio, os brasileiros investiram US$9,586 bilhões em ações, títulos e outros ativos financeiros no exterior em 2005, 16,56% mais do que no ano anterior. Para Lopes, a permissão dada recentemente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para brasileiros investirem livremente no mercado de capitais no exterior deve trazer mais fôlego para as operações.

Até então, as pessoas físicas e as empresas somente podiam comprar ações nas bolsas de valores do Mercosul, ou American Depositary Receipts (ADRs, ou ações de empresas nacionais lançadas fora do país) ou Brazilian Depositary Receipts (BDRs), que são ações de companhias estrangeiras lançadas no mercado brasileiro.

¿ Esse é um estímulo que poderemos verificar daqui para a frente.