Título: ANALISTAS DEFENDEM AJUSTE E REFORMAS
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 01/11/2006, O País, p. 4

Receita inclui cortes de gastos, abertura da economia e menos impostos

NOVA YORK. Às promessas de crescimento maior no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, brasilianistas e mercado financeiro respondem que o Brasil só conseguirá crescer a taxas maiores se fizer uma reforma fiscal já. Wall Street, praticamente em coro, diz que não há milagre nem canetadas capazes de fazer a economia brasileira passar a crescer a taxas chinesas sem reformas profundas. O mantra repetido pelos analistas é que o país precisa de mais investimentos da iniciativa privada e as empresas só vão aplicar dinheiro na produção se houver redução de imposto.

¿ A eleição não muda nada. A curtíssimo prazo é impossível crescer 4% ou 4,5%. A gente não tem de olhar 2007 como o ano que terá taxas altas mas como o ano-base para as reformas ¿ diz o professor Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia.

Previsões para 2007 são de crescimento em torno de 3%

A opinião do brasilianista é a mesma dos executivos de corretoras, bancos e agências de risco que participaram ontem, em Nova York, de um café promovido pela Câmara de Comércio Brasileira-Americana, para discutir o Brasil pós-eleição.

¿ Uma economia grande como a do Brasil e com problemas complexos não muda os parâmetros da noite para o dia. Mas essa gestão pode acertar as bases para o país crescer nos próximos dez anos 4,5%, 5%. Se não aprofundar as reformas, não cresce de maneira sustentada ¿ diz Paulo Leme, diretor de mercados emergentes da Goldman.

Mas o mercado prevê um segundo mandato mais estável do que o primeiro e aposta na permanência de Henrique Meirelles no Banco Central. As previsões são de que o Brasil manterá uma política monetária e fiscal prudente, com estimativas de crescimento em torno de 3% , inflação entre 3% e 4%, redução de juros entre um ponto e 1,5 ponto percentual, dólar mais ou menos no mesmo patamar deste ano. Há, no entanto, temor que essa discussão entre monetaristas e desenvolvimentistas dure tempo demais e acabe imobilizando o governo.

¿ O governo não pode levar muito tempo para definir a política do próximo mandato e para construir uma política fiscal consistente. Depois de certo tempo, não importa a política, as pessoas não querem pagar para esperar ¿ diz Rogerio Chequer, diretor-gerente do Discovery Fund.

Os mais céticos acham que tudo vai continuar como no primeiro mandato e o sucesso maior ou menor do governo dependerá do comportamento da economia internacional. A receita de todos é a mesma: corte de gastos do governo, abertura da economia à concorrência internacional, reforma da Previdência, reforma trabalhista, regras mais claras e redução da carga tributária. Drausio Giacomelli, vice-presidente do J.P. Morgan, diz que as empresas brasileiras acabam preferindo investir no exterior do que no Brasil.

¿ Simplesmente porque é mais barato ¿ diz.

Provavelmente ainda não será nesse segundo mandato que o Brasil conseguirá a classificação de investment grade, que poderia ser uma ajuda para atrair mais investimentos internacionais. Segundo Liza Schineller, diretora de análise de riscos da Standard and Poor's , ainda é preciso reduzir a vulnerabilidade externa e manter uma política fiscal consistente por um tempo maior para ser recomendado como país que não oferece riscos para investidores.

¿ Não será com crescimento de 6% que o Brasil chegará a investment grade mas com a redução da vulnerabilidade externa ¿ diz.