Título: PFL DECIDE NÃO CONVERSAR COM LULA
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 01/11/2006, O País, p. 10

Partido articula com PSDB candidatura própria à presidência do Senado

BRASÍLIA. Identificado como um dos maiores derrotados das eleições deste ano, o PFL traçou ontem estratégia de reação: não pretende se sentar à mesa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; na sua principal trincheira, o Legislativo, vai reforçar o papel de oposição; e articulará com o PSDB o lançamento de candidato próprio para a presidência do Senado.

Mas a aliança com os tucanos deve ficar restrita ao Congresso: preocupados com o futuro da legenda, os pefelistas estão dispostos a investir em projetos próprios para as eleições municipais de 2008 e a disputa presidencial de 2010.

Nota reafirma posição do partido

Coube ao presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), divulgar nota ¿ cujos termos acabaram amenizados por interferência do senador Marco Maciel (PFL-PE) ¿ que reitera a disposição de permanecer na oposição ao governo. Bornhausen antecipou que o partido não aceita o convite de Lula para conversar.

¿ Nós não atravessaremos a rua. Nossa trincheira é o Congresso. Se quiser, o presidente poderá manter o diálogo com a oposição através de seus líderes no Legislativo. Não estamos dispostos a ouvir promessas que ele não cumpriu nos últimos quatro anos, que foi justamente a de fazer quatro reformas. A reforma política, por exemplo, ele trocou pela cooptação e o mensalão ¿ adiantou Bornhausen, divergindo da atitude do PSDB, que já sinalizou disposição de conversar com o presidente.

¿ Há um sentimento de perda. Depois de perder uma eleição, o único remédio à altura é perder o medo de perder eleições. Assim o PT se fez ¿ resumiu o deputado eleito Alceni Guerra, um dos mais enfáticos a defender a necessidade de o PFL caminhar com as próprias pernas, sob pena de não sobreviver nas próximas eleições.

Alceni sugeriu que os diretórios municipais trabalhem para lançar candidato próprio em 2008. Esse seria o primeiro passo para o partido se fortalecer para a disputa de 2010.

¿ O PFL em 2010 deve buscar candidatura própria. O PSDB não facilitou nossa vida nas alianças estaduais. Temos de buscar um caminho para fortalecer o partido ¿ confirmou o líder do partido na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

Bornhausen confirmou a pretensão de entrar na disputa pela presidência do Senado, tendo em vista que o PFL hoje tem uma bancada de 18 senadores, assim como o PMDB:

¿ Essa pretensão é legítima, assim como a do PMDB de pleitear a presidência da Câmara.

Nos bastidores, poucos acreditam que o PFL tenha condições de levar adiante a ameaça de disputar a presidência do Senado. O partido está prestes a perder a condição de maior bancada, especialmente se a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) se desfiliar para fugir da punição que lhe deverá ser imposta em razão de seu apoio a Lula.

Os nomes mais fortes para a disputa seriam o do atual líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), e do ex-vice-presidente Marco Maciel. Mas nenhum estaria disposto a entrar para perder. Se a derrota ficar evidente, o partido poderá aceitar uma composição para não perder espaço na mesa do Senado.

Após reunião da Executiva, Bornhausen salientou que o PFL respeita o resultado das eleições. Mesmo dizendo-se contrário à politização dos processos judiciais em andamento contra Lula, como o que investiga a compra do dossiê contra tucanos e o de abuso de poder econômico no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o senador disse esperar que o julgamento desses processos seja dentro da lei. No Legislativo, o partido está disposto a apreciar projetos de interesse do país, mas descarta adesão ao projeto de Lula.

¿ Não participaremos de nenhuma adesão ou rendição. Isso seria insuportável para 40% da sociedade brasileira que rejeitou o governo Lula.