Título: CONTRA A MÍDIA, AGRESSÕES, CRÍTICAS E VERBAS OFICIAIS
Autor:
Fonte: O Globo, 01/11/2006, O País, p. 14

Militantes agrediram jornalistas; Ciro pede incentivo financeiro para veículos que apóiem o governo

BRASÍLIA. As críticas de setores do PT e de militantes petistas à imprensa, ao longo da campanha eleitoral, terminaram em agressão física na festa de comemoração da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em frente ao Palácio da Alvorada, anteontem. Depois de seguir Lula em carreata, da Base Aérea ao Alvorada, cerca de 200 militantes do PT, simpatizantes e funcionários do governo, com agressividade, gritaram palavras de ordem contra a imprensa e chegaram a dizer que a ditadura era melhor e que é preciso ¿fechar a imprensa¿.

¿ A ditadura matava com baionetas, a imprensa mata com a língua ¿ gritou um exaltado militante.

Um deles deu uma bandeirada na cabeça de um repórter. Os militantes criticavam a publicação de notícias sobre casos como o do mensalão e do dossiê, e diziam que os jornalistas não deveriam fazer perguntas sobre o assunto ao presidente Lula.

No mesmo dia, mais tarde, o presidente do PT e coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que se solidarizava com os jornalistas mas, apesar disso, disse que também tem muitas críticas à imprensa. Afirmou que não está satisfeito com a cobertura das eleições e que jornalistas e meios de comunicação deveriam fazer uma reflexão:

¿ Muitas vezes divergimos sobre o comportamento da imprensa, mas nunca negamos o papel da liberdade de imprensa, que deve ser ampliado. Se ela precisa ser avaliada em seu desempenho, e na minha opinião precisa, caberá aos próprios jornalistas avaliar o papel que tiveram nesta disputa eleitoral.

Garcia disse que os jornais têm uma ¿dívida moral¿ com seus ¿consumidores¿: esclarecer, segundo ele, que não houve mensalão ¿ apesar de a CPI ter concluído que sim e o próprio procurador-geral da República ter denunciado 40 dos envolvidos ao STF por ¿organização criminosa¿.

¿ Nunca houve votos em troca de dinheiro, houve dinheiro de caixa dois para apoiar eleições. Essa é uma dívida dos jornais com a opinião pública que precisa ser corrigida, talvez por um historiador no futuro ou por um bom jornalista investigativo ¿ disse.

O ex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes (PSB), em entrevista publicada no site Observatório da Imprensa, foi mais além: defendeu o incentivo financeiro para veículos que apóiem o governo:

¿ Precisamos ter clareza de que não temos que ter medo de, assim como na economia, avançar numa questão substantiva que é a questão da democratização dos meios de comunicação no Brasil. É preciso incentivar dramaticamente os meios de comunicação alternativos, financiar, e, nisso, conceder canais de televisão, e discutir isso depois das eleições. O vanguardismo cultural precisa ter espaço. Isso tem que ser discutido abertamente, sem preconceito, mas também sem medo. Precisamos conversar com o povo. De boa fé, com clareza, com profundo senso democrático e avançar para ao futuro ¿ afirmou Ciro Gomes.