Título: GOVERNO AUMENTA MISTURA DE ÁLCOOL À GASOLINA
Autor: Eliane Oliveira, Claudio de Souza e Ronaldo D'Erco
Fonte: O Globo, 01/11/2006, Economia, p. 29

Proporção de anidro no combustível passará de 20% para 23%. Especialistas esperam leve queda nos preços

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. O governo decidiu ontem aumentar de 20% para 23% a mistura do álcool anidro à gasolina. A medida dividiu especialistas sobre o efeito que terá no bolso do consumidor. Alguns estimam que o preço do litro da gasolina poderá ter uma pequena redução, mas outros avaliam que a medida poderá causar um aumento nos preços do álcool hidratado, que é vendido nos postos para o consumo direto nos veículos.

O novo percentual deverá começar a vigorar até o fim de novembro e foi decidido após negociações com o setor sucroalcooleiro, que pedia que a mistura aumentasse para 25%. O álcool anidro, vendido nas usinas, é misturado pelas distribuidoras na gasolina A, comprada nas refinarias, para produzir a chamada gasolina C, que é comercializada nos postos.

O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Município do Rio de Janeiro (Sindicomb) estima que o preço da gasolina nas bombas cairá, no máximo, 0,08%, o que representa uma redução de cerca de R$0,02 por litro. Segundo a pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana passada, o preço médio do litro da gasolina nas bombas do Rio estava a R$2,486, e, no Brasil, R$2,536.

¿ Por que não se faz um estoque regulador agora que há sobra de álcool no mercado? Quando vier a entressafra, haverá um aumento maior ¿ disse José Luiz Mota Afonso, presidente do Sindcomb.

O vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, estima que a redução dos preços do litro da gasolina fique entre R$0,02 e R$0,04, dependendo do ICMS de cada estado. Mas ele também crê que a demanda provocará pressões:

¿ É muito provável que o preço do álcool se eleve já nas próximas semanas ¿ disse.

Opinião contrária tem o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Ele considerou positiva a medida e não acredita que a queda poderá causar o aumento dos preços do álcool, porque a oferta no mercado é abundante. Pires também concorda que deve haver queda no preço da gasolina de 1% a 1,8%, ou seja, R$0,02 a R$0,04 por litro.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que a medida não afetará o preço da gasolina nas refinarias:

¿ Isso aumentará a utilização de álcool, a demanda do combustível. O efeito é sobre as distribuidoras e os postos. Para as refinarias, do ponto de vista do preço, não há alteração.

Segundo o governo, o objetivo é evitar a perda significativa da renda do setor, já que existe superoferta de álcool no mercado de 5,1 bilhões de litros. Mas os presidentes do Sindicato dos postos do estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Gouveia, e da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda, criticaram a medida.

(*) Do Globo Online. Colaborou Mirelle de França