Título: ONDE FOI QUE NÓS REPUBLICANOS ERRAMOS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/11/2006, O Mundo, p. 35

Em algum lugar no caminho de uma ¿maioria permanente¿, a Revolução Republicana de 1994 saiu dos trilhos. Por muitos anos, tivemos confiança em nossas convicções e acreditamos que o povo americano iria recompensar nossos esforços. E recompensou. Mas hoje, meus amigos republicanos no Congresso estão à beira de um precipício eleitoral. Mesmo os cenários mais otimistas sugerem uma maioria ínfima e uma agenda legislativa bagunçada.

Onde foi que a revolução descarrilhou? A resposta é simples: os legisladores republicanos esqueceram os princípios do partido, enamoraram-se do poder e de suas posições e começaram a pôr a política acima das políticas públicas. Agora os democratas estão colhendo os frutos de nossa negligência ¿ e não podemos culpar ninguém além de nós mesmos.

Em 1989, quando Newt Gingrich chegou à segunda posição de liderança na Câmara de Representantes, começamos a sair da acomodação que ¿ por nossa condição de minoria ¿ durante quase duas gerações nos fez aceitar felizes as migalhas do poder no Congresso. Mas Gingrich, eu e outros crentes na visão conservadora de Ronald Reagan estabelecemos o objetivo de retomar a Câmara. Nosso ¿Contrato com a América¿ delineou nossa plataforma de governo limitado e reforma de um Congresso cada vez mais corrupto e arrogante, unificando nossa base conservadora a acenando para os independentes. Tomamos a frente dos temas nacionais e, em 1994, tal visão foi validada quando os republicanos elegeram 54 deputados e oito senadores, dando-nos o controle de ambas as casas do Congresso.

Aprovamos a reforma da Previdência em 1996 e ela teve tanto sucesso que o presidente Bill Clinton ¿ que a rejeitou duas vezes ¿ acabou considerando-a uma das melhores idéias de seu governo. Contudo, apesar de tais êxitos, não aprendemos as lições políticas corretas. Clinton, uma raposa velha da política, nos superou com suas manobras e aparentemente muitos republicanos concluíram que os Estados Unidos queriam um governo maior. Esse erro de leitura foi o primeiro passo no afastamento do legado de Reagan.

Emergimos como um partido ferido, paramos de confiar no público e internalizamos a lição errada, deixando de barrar cortes de despesas novas. Agora os gastos estão fora de controle. Enquanto isso, a Previdência Social está entrando em colapso, nações hostis estão se nuclearizando e o Oriente Médio está mais inflamável do que nunca, com a complacência republicana. Se os democratas ganharem o controle do Congresso, não será por suas propostas ou princípios, mas porque os republicanos não quiseram confrontar os grandes temas.

Como podemos responder aos ataques que certamente virão se tal possibilidade se concretizar? Os líderes do partido devem lembrar-se de que o moderno movimento conservador é uma fusão dos conservadores sociais e fiscais unidos na crença de um governo limitado. Ambos devem ser mantidos em suas fileiras. A maior ameaça à prosperidade americana hoje é um colapso fiscal resultante de compromissos a longo prazo. E os republicanos perderam de vista sua agenda nacional ampla.

Quando voltarmos a ser o partido do governo limitado, seremos de novo o partido em que os eleitores americanos confiarão para lidar com os sérios desafios que nossa nação enfrenta.

DICK ARMEY foi líder da maioria republicana na Câmara de Representantes de 1995 a 2003