Título: BUSH, CABO ELEITORAL QUE ÀS VEZES ATRAPALHA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 01/11/2006, O Mundo, p. 35

Presidente levanta fundos e faz campanha como candidato mas não aparece onde tem popularidade baixa

WASHINGTON. Candidato a deputado ou senador ele não é nem poderia ser, já que ainda permanece como presidente da República. No entanto, George W. Bush vem agindo como se fosse, ainda que o seu papel seja mesmo o de um esforçado cabo eleitoral de republicanos aflitos em relação às eleições da próxima terça-feira.

A presença de Bush em comícios e eventos para arrecadar fundos, que continuam a todo vapor, é tão significativa quanto a sua ausência em outros. Por um lado, está sendo preciso que ele apareça para reforçar a posição do governo em locais em que antes era necessário pouco esforço, por serem áreas em que o Partido Republicano sempre venceu com facilidade.

¿ O fato de os republicanos estarem fazendo de tudo para conseguir manter a liderança em distritos onde sempre venceram diz muito sobre os problemas que eles estão enfrentando em todo o país ¿ disse Amy Walter, do Cook Political Report, um conceituado centro de análises políticas.

A volta de Bush ontem ao estado da Geórgia, que ele tinha visitado 24 horas antes, foi um claro exemplo dessa necessidade. Por outro lado, em determinadas áreas, em especial no Nordeste do país, os candidatos de seu partido estão fazendo uma solicitação exatamente contrária: eles pedem para que Bush não apareça, pois isso poderia complicar ainda mais a sua situação. Ali o prestígio do presidente é menor do que a média nacional, cujo índice (de popularidade) é hoje 37%.

Bush diz que democratas dariam vitória ao terror

Onde quer que apareça, Bush tem procurado assustar os eleitores, em relação ao principal tema da campanha deste ano: a guerra no Iraque e o combate ao terrorismo internacional. Ele tem dito que votar nos democratas é o mesmo que dar a vitória aos terroristas:

¿ É isso o que está em jogo nessas eleições. A meta dos democratas é sair do Iraque, e a dos republicanos é vencer no Iraque ¿ tem repetido.

Dias atrás em Sarasota, na Flórida, o presidente usou a mesma tática ao se referir à área econômica:

¿ Os democratas estão geneticamente dispostos a aumentar os impostos ¿ afirmou.

Sob a orientação de Karl Rove, o estrategista político da Casa Branca, o partido do governo está apelando a todas as armas disponíves. Segunda-feira, por exemplo, Bush teve uma conversa telefônica simultânea com três mil representantes do partido em todo o país pedindo que se esforcem para fazer com que, pelo menos, os republicanos compareçam às urnas na próxima terça-feira.

Além disso, Rove despachou para todos os diretores do partido no país CDs com listas de eleitores contendo também informações específicas sobre os seus hábitos de consumo e como votaram anteriormente ¿ com base num estudo de campo concluído recentemente por uma empresa contratada pelo governo. A primeira-dama, Laura Bush, e o governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente, também foram convocados para o esforço.

Ambos têm comparecido a outros comícios, como representantes de Bush. E, além disso, têm enviado um e-mail padrão a centenas de milhares de republicanos ¿ como se fosse uma mensagem pessoal a cada um deles ¿ pedindo tanto o seu voto como uma contribuição de pelo menos US$20 para ajudar o partido nesta última semana de campanha.