Título: A farra das fusões
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O GLOBO, p. 2

Apenas sete partidos ultrapassaram, nas eleições de outubro, a cláusula de desempenho de 5% dos votos para a Câmara. Os eleitos ainda nem assumiram e três partidos deram um jeitinho de chegar lá, fazendo fusões e incorporações partidárias. O PTB, de Roberto Jefferson, e o PL, do deputado Valdemar Costa Neto, já tinham feito isto em 2002. A novidade é que agora o PPS entrou nessa.

Esses acordos, que mais se assemelham a um negócio do que a uma aliança política, envolvem muito dinheiro. Os três partidos fizeram acordos com partidos de estufa, que não têm uma vida real e são controlados de forma cartorial. O PTB incorporou o PAN. O PL se fundiu com o Prona, criando o Partido da República (PR). E o PPS se prepara para criar um tal de Movimento Democrático (MD), tentando se confundir com o PMDB, ao se fundir com PMN e PHS.

Estes acordos foram anunciados entre o primeiro e o segundo turno e não foram precedidos por qualquer discussão de idéias. O acerto passou por vantagens materiais. O PTB, ao se unir ao PAN, assegurou que participará da divisão, proporcional ao número de deputados, de 99% dos cerca de R$140 milhões do Fundo Partidário. Nos últimos quatro anos, o PTB recebeu R$27,4 milhões do Fundo Partidário. O PL, ao se unir com o Prona, também garantiu sua bolada. Nos últimos quatro anos, o partido recebeu R$26,1 milhões. Mas o PPS está dando um verdadeiro salto financeiro com sua fusão. Nos últimos quatro anos, PPS-PMN-PHS (o novo MD) recebeu R$4,8 milhões e deverá no futuro, graças à bancada de 26 deputados, ter uma mesada maior que o PTB-PAN, de 23 deputados, e PL-Prona (PR), 25.

Estas fusões estão sendo feitas sem transparência. Sem que os dirigentes dos partidos líderes revelem os termos dos acertos que estão fazendo. A única coisa que se sabe com certeza é que tem grana no acordo. Quando o PPS propôs ao PV (13 deputados) a fusão, o acordo previa a manutenção de estruturas partidárias distintas e a divisão dos recursos do fundo, proporcionalmente às bancadas na Câmara.

Estes três partidos poderão, em breve, ter bancadas entre 30 e 40 deputados. Foi o que ocorreu com PTB e PL no primeiro mandato do presidente Lula. Além do dinheiro, eles, que não elegeram deputados em cerca de 13 estados, terão um poderoso argumento de cooptação parlamentar: dois programas anuais de 20 minutos em redes regionais de rádio e televisão.