Título: Vinte candidatos sanguessugas à Câmara arrecadaram R$3,4 milhões
Autor: Maria Lima e Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 4

Gastos do grupo declarados à Justiça Eleitoral foram de R$2,7 milhões

RIO e BRASÍLIA. Não faltou dinheiro para 20 candidatos a deputado federal envolvidos no escândalo dos sanguessugas que tiveram suas contas divulgadas ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao todo, foram 43 deputados acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias superfaturadas que disputaram a eleição. Somente esses 20 arrecadaram R$3,4 milhões em doações de campanha. As despesas ficaram em R$2,7 milhões. Não foi possível consultar a prestação de contas de alguns dos candidatos, devido a problemas no site do TSE.

Entre os campeões de captação de recursos estão Wellington Fagundes (PL) com R$1 milhão, Ricarte de Freitas (PTB) com R$250,1 mil, e Pedro Henry (PP), com R$464,3 mil, os três de Mato Grosso, estado onde nasceu e prosperou o esquema de fraudes da Planam, empresa investigada pela Polícia Federal por montar a máfia dos sanguessugas.

A campanha mais pobre foi de Almir Moura (PFL-RJ), que recebeu e gastou R$13 mil. A candidatura mais rica, de Wellington Fagundes, foi abastecida por recursos próprios. Na prestação de contas, sem discriminar de onde tirou o dinheiro, ele aparece como o maior doador: R$872 mil do R$1 milhão.

PPS doou R$102 mil para sanguessuga do PL-MT

O governador reeleito Blairo Maggi (PPS) também investiu para reeleger alguns acusados de envolvimento com a máfia dos sanguessugas que não eram do seu partido. O comitê financeiro do PPS em Mato Grosso destinou R$102 mil para a campanha de Ricarte de Freitas, e R$9,8 mil para Wellington Fagundes. Dos três, apenas Ricarte não conseguiu um novo mandato.

No Amapá os deputados Coronel Alves (PP) e Eduardo Seabra (PTB), dois sanguessugas, fizeram uma dobradinha e apresentaram prestação de contas idênticas. Na listagem de receita, a prestação do Coronel Alves cita como único doador o deputado Eduardo Seabra, com um repasse de R$3,5 mil e outro de R$30 mil, totalizando R$33,5 mil. Na prestação de Seabra, os mesmos dois repasses, totalizando o mesmo valor de R$33,5 mil.

O quarto-secretário da Mesa da Câmara, João Caldas (PL-AL), também não fez uma campanha modesta. Recebeu doações no valor de R$312 mil e gastou o mesmo valor. Já o deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB) , que arrecadou R$260 mil, mais da metade, R$150 mil , foi de uma única empresa, a Biolab Sanus Farmacêutica.

Envolvidos com máfia no Rio arrecadaram R$868 mil

No Rio, os oito parlamentares acusados de terem sangrado, juntos, R$1.438.500 dos cofres públicos na máfia das ambulâncias arrecadaram em suas campanhas valor bem menor: R$868.110,10. Nenhum deles conseguiu a reeleição. Uma das mais citadas nas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e acusada de ter recebido no total R$440 mil, a deputada federal Elaine Costa (PTB-RJ) arrecadou R$35.400, menos de um quarto dos R$165.320 que ela conseguiu na campanha de 2002.

Já o deputado Almir Moura (PFL-RJ), acusado de ter recebido R$180 mil, declarou receita de R$13 mil, a menor entre os sanguessugas. Na campanha de 2002, Moura arrecadou R$78.411.

Apontado nas investigações da CPI dos Sanguessugas como tendo recebido R$411.500 no esquema, o deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ) arrecadou R$129.435,64. A campanha mais cara foi a da deputada federal Laura Carneiro (PFL), acusada de receber R$15 mil da máfia das sanguessugas. Ela arrecadou R$263.436,39.

Segunda maior arrecadação de campanha, o deputado Carlos Nader informou receita de R$156.929.39, quase toda ela bancada por sua família. Paulo Baltazar é acusado de ter se beneficiado no esquema com R$50 mil e arrecadou para a campanha de reeleição R$93.473.

O deputado Reinaldo Gripp (acusado de receber R$200 mil) obteve poucos recursos: R$16.650, sendo que a maior parte, R$9.650, saiu do bolso da família. Reynaldo Betão (PL), outro candidato indiciado no relatório da CPI, declarou ao TRE-RJ uma arrecadação de R$66.313,19, sendo que a maior parte também bancada por ele próprio e por sua família.