Título: DOSSIÊ: CASA DE CÂMBIO NÃO IDENTIFICA SACADORES
Autor: Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 9

Donos da Vicatur informam à Polícia Federal que movimento financeiro impede checagem

CUIABÁ. Os advogados dos donos da casa de câmbio Vicatur, de Nova Iguaçu, no Rio, comunicaram oficialmente ontem à Polícia Federal de Mato Grosso que a empresa não tem como identificar os compradores dos dólares que seriam usados por petistas para pagar um dossiê contra tucanos. Segundo os defensores de Sirlei da Silva Chaves e Fernando Manuel Ribas, a intensa movimentação financeira da casa de câmbio torna impossível a identificação dos compradores.

A informação foi protocolada pelos advogados Bruno de Oliveira e Ubiratan Cavalcanti no inquérito da Polícia Federal que investiga a origem dos dólares. Segundo fontes ligadas à investigação, os sócios da Vicatur afirmaram que, quando a casa de câmbio recebe dinheiro, não realiza a conferência das séries. Apenas faz a contagem das notas e as disponibiliza para as transações. A PF descobriu que, do R$1,7 milhão encontrado com os petistas Gedimar Passos e Valdebra Padilha no hotel Íbis, em São Paulo, US$109,8 mil teriam saído da Vicatur.

Com a declaração, os sócios da casa de câmbio demonstram que não têm interesse na delação premiada, na qual poderiam ser beneficiados na Justiça caso auxiliassem nas investigações. Sirlei Chaves e Fernando Ribas estão indiciados por falsificação de documentos e crime contra o sistema financeiro. Mas em depoimento dado à PF em outubro eles negaram conhecer qualquer um dos petistas citados no caso.

O delegado Diógenes Curado Filho, que conduz o inquérito, identificou pelo menos sete pessoas de uma mesma família que teriam emprestado seus CPFs para que a Vicatur realizasse operações financeiras.

PF vai ouvir piloto que teria transportado dinheiro

Ontem à tarde, o delegado estava elaborando as perguntas de uma carta precatória para que a PF de São Paulo ouça a estudante Ana Paula Cardoso Vieira. Curado Filho descobriu que de um celular registrado no nome dela originaram-se dezenas de telefonemas para Jorge Lorenzetti, churrasqueiro do presidente Lula, para o comitê da campanha de reeleição do presidente e para Gedimar Passos. A PF desconfia que o telefone tenha sido usado por Hamilton Lacerda, então coordenador da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) a governador.

A Polícia Federal também pretende ouvir na próxima semana o piloto de avião Tito Lívio Ferreira da Silva Júnior, de Campo Grande (MS). As investigações apontaram que ele teria sido contratado por Padilha para transportar o dinheiro de São Paulo até Cuiabá.

Também ontem a PF de Mato Grosso recebeu a documentação apreendida por agentes federais de Santa Catarina na Centaurus Turismo e Câmbio, de Florianópolis, onde também teria sido comprada parte dos dólares.

(*) Especial para O GLOBO