Título: É hora de combater a violência e a corrupção¿
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 04/11/2006, O País, p. 10

O brasilianista Kenneth Maxwell acredita que o presidente Lula será obrigado a fazer do combate à violência a prioridade do seu segundo mandato. Para ele, foi dada uma importância muito grande à política externa no primeiro mandato e a hora é de uma tomada de consciência para enfrentar a corrupção, o tráfico de drogas e o uso de armas ilegais.

¿ É hora de Lula pensar na sua imagem na História do Brasil ¿ diz o professor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard

Em que este segundo mandato de Lula vai ser diferente do primeiro?

KENNETH MAXWELL: Acho que ele pode ter um mandato bastante forte. Deve começar a pensar na sua imagem na História do Brasil. Ele teve uma segunda chance e deve usá-la para começar a fazer as coisas importantes.

O que deve ser a prioridade desse segundo mandato?

MAXWELL: O combate à violência. Esse assunto não entrou na campanha, mas está na cabeça de todos os brasileiros. A realidade é que os governos estaduais e a administração federal também terão de enfrentar esse problema. Acho que Lula será forçado a assumir isso como uma prioridade maior do que as questões macroeconômicas.

Esse pode ser o caminho de Lula para se reconciliar com as elites?

MAXWELL: Acho que no primeiro mandato foi dada uma atenção muito grande à política externa, mas agora o Brasil precisa tomar conta dos seus próprios problemas. O grande poder do Lula é o de se comunicar, o de falar com o povo e ele podia conseguir apoio popular para três ou quatro metas importantes para o Brasil, o que lhe daria um lugar importante na História. É hora de uma tomada de consciência para combater a violência e a corrupção. Não falo só da corrupção do governo, mas a corrupção do Judiciário, do policial da esquina. É hora de enfrentar o tráfico de drogas, as armas ilegais. A situação está muito difícil.

Os assessores de Lula estão dizendo que agora vem aí um governo de esquerda e com crescimento da economia. O que o senhor acha?

MAXWELL: A situação na América Latina está complicada agora, com Bolívia e Chávez. O Brasil neste cenário é uma ilha de estabilidade em comparação com os outros países mais populistas. Um dos segredos desse resultado eleitoral foi não só o Bolsa Família, mas a estabilidade econômica brasileira.

Lula já fala em reconciliação nacional. Acha possível acordo com o PSDB?

MAXWELL: Acho que sim, acho possível construir alianças com Aécio Neves e José Serra, governadores de dois estados importantes (Minas e São Paulo, respectivamente). Fernando Henrique é outra história, virou uma coisa mais pessoal que partidária. Acho lamentável para os dois lados.

Lula perdeu o lugar de protagonista na cena internacional para Chávez?

MAXWELL: Hugo Chávez só tem uma grande boca, ele fala demais e está perdendo apoio. Acho que a situação internacional será menos favorável e pode ficar complicada para o Brasil com Evo Morales na Bolívia. Os economistas falam na possibilidade de uma crise na Argentina. Mas o Brasil tem capacidade de negociar.(Helena Celestino)