Título: SALÁRIOS DE MENOS, CARGA HORÁRIA A MAIS
Autor: Eliane Oliveira, Regina Alvarez e Monica Tavares
Fonte: O Globo, 04/11/2006, Economia, p. 28

Controladores reclamam ainda de equipamentos defasados e falta de concurso

A rotina estressante dos controladores de vôo brasileiros não foi gerada pelo recente afastamento de profissionais, após o acidente com o avião da Gol. Equipamentos defasados e sem manutenção, salários que não são reajustados há anos, carga horária e distribuição de trabalho incompatíveis com as normas internacionais e falta de acompanhamento psicológico são algumas das muitas reclamações de operadores que preferem se manter no anonimato:

¿ Os equipamentos são muito antigos e sem manutenção e os salários permanecem iguais há anos. Os jovens que entram não têm experiência para operar e não dominam a língua inglesa. O dia-a-dia da profissão é cheio de termos em inglês e códigos ¿- diz um controlador.

Segundo ele, a jornada é de oito horas por dia em turnos alternados. Após completar 24 horas, o controlador de vôo tem folga de 48 horas. Durante a folga, afirma, os controladores seriam obrigados a fazer serviços como a guarda das bases da Aeronáutica. Ao chegar ao centro de controle, o profissional analisa as rotas já traçadas das aeronaves no expediente anterior. Com isso, consegue ver quais faixas estão livres e quais estão congestionadas.

¿ É muita tensão. A cada minuto são várias coordenadas. A comunicação é por siglas quase todo o tempo. Ao mesmo tempo em que se controla a partida de um vôo, é preciso atenção ao tempo de pouso de outra aeronave e controlar a rota de outras tantas. Tudo tem de ser preciso. A velocidade das ações também é altíssima. Por isso, o desgaste ¿ explica o controlador.

O comandante Celio Eugênio de Abreu Junior, assessor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), defende que o sistema de aviação civil no país deve ser reavaliado com urgência, em função da demanda do mercado de aviação. Ele lembra que somente nos últimos três anos, a aviação no Brasil cresceu cerca de 21% ao ano, e a perspectiva é manter estes índices:

¿ As empresas aéreas compraram mais aviões e, enquanto isso, poucos aeroportos foram revitalizados. O investimento no controle de tráfego foi mínimo.

Ele compara a situação brasileira com a de países como os EUA, onde, em 2004, foi criada a Air Traffic Organization, subordinado à SAA, órgão de aviação civil americano. Só a Air Traffic abriga 15 mil controladores de vôo, que trabalham exclusivamente na função.

¿ A qualquer hora do dia existem sete mil aviões voando no espaço aéreo americano e os profissionais não fazem atividades paralelas. Na Europa, nos anos 90, foi criada uma unidade do Euro Control, que é uma central de controle de fluxo de tráfego aéreo. No Brasil, houve um hiato de mais de 21 anos sem mudanças.

Abreu alerta que as mudanças propostas são paliativas e que é preciso redimensionar o tráfego nos aeroportos. Segundo ele, em abril de 2007, os órgão mundiais de aviação civil passarão a exigir nível 4 de inglês para esses profissionais. Há no país 2.100 controladores militares e 493 civis. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo reivindica que o serviço saia do Departamento de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronáutica.

Entre as soluções propostas, estão a criação de uma universidade para a formação de civis, entre controladores, engenheiros de vôo e pilotos, e a regulamentação de uma lei sobre a profissão do controlador de vôo.