Título: Pé na tábua
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 02/11/2006, O GLOBO, p. 2

O presidente Lula deu 15 dias a seus ministros para que apresentem medidas concretas para deflagrar uma grande mobilização nacional pelo maior crescimento da economia já no ano que vem. Assim terminou a reunião de uma hora e meia que ele teve ontem com os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Luiz Furlan (Desenvolvimento), em que pediu unidade no discurso e repreendeu especulações sobre trocas.

Lula começou condenando declarações que suscitem a idéia de uma guinada, com afrouxamento do controle fiscal e da inflação, em mais uma referência à entrevista em que o ministro Tarso Genro, no próprio dia da eleição, falou no fim da Era Palocci. Até aqui, completou, a política econômica foi vitoriosa, mas agora o governo precisa responder ao desafio do crescimento, sem negligenciar os pontos que foram consenso em outros momentos, o controle fiscal e da inflação. Não é mais possível seguir com o script já conhecido: a cada 45 dias o Copom faz uma reunião, cria-se uma expectativa e depois é anunciada a redução já esperada na taxa de juros. Será preciso também garantir nova expansão do crédito, o estímulo ao investimento, a aceleração das obras de infra-estrutura e a desoneração tributária para alguns setores produtivos.

A população aprovou as políticas do governo e ofereceu respaldo à continuidade, disse Lula, invocando os resultados do segundo turno, quando recebeu 12 milhões de votos a mais que no primeiro turno, enquanto seu adversário perdeu 2,5 milhões. Sua rejeição caiu 15 pontos percentuais, contra uma alta de 17 na de Alckmin, recordou o próprio Lula.

Do grupo que estava ali, Meirelles é, obviamente, o mais incomodado com esta discussão claramente apontada para a redução acelerada dos juros, casada a uma meta de crescimento. Voltou a dizer que a inflação baixa e o conseqüente aumento do consumo das famílias foram um elemento importante da vitória. Mas a divergência ficou contida, os outros lhe fizeram coro e apresentaram propostas genéricas sobre como melhorar o gasto público sem cortes dolorosos, como desonerar alguns setores produtivos.

¿ Quero coisas concretas. Precisamos começar o 2007 com o pé na tábua ¿ disse Lula.

Foi quando se fixou o prazo de 15 dias para a apresentação de propostas mais redondas e discutidas entre eles. Apesar da mística de que o segundo mandato é sempre pior que o primeiro, marcado pela repetição de erros ou pela inoperância, Lula, ainda muito feliz com a vitória de domingo, voltou a manifestar a convicção de que pode fazer o contrário.

As condições para o crescimento estariam dadas. Há quem discorde, e tema que ao pôr o pé na tábua o governo pise no acelerador da inflação.