Título: ENQUADRADO, TARSO MUDA DE DISCURSO
Autor: Isabel Braga e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 02/11/2006, O País, p. 4

Ministro admite que merecia `puxão de orelha¿ por dizer que a `Era Palocci¿ acabou

BRASÍLIA. Depois de ser desautorizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ter afirmado que a ¿Era Palocci¿ na economia havia acabado, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, mudou ontem seu discurso. Procurou mostrar sintonia com o presidente sobre a necessidade de combinar crescimento e inflação baixa. Até elogiou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Tarso disse que defende, assim como Lula , um crescimento mínimo de 5% em 2007. Na tentativa de atenuar o que declarara domingo, afirmou que nunca pregou flexibilidade fiscal.

¿ Quando o presidente fala, ele dá uma linha para todo o governo e enquadra politicamente todos os seus ministros, e é isso o que ocorreu e é isso que deve ocorrer ¿ disse ontem Tarso, já obedecendo à ordem de evitar o debate público. ¿ A questão de fundo que o presidente colocou foi a respeito do crescimento combinado com baixas taxas de inflação. Isso é o importante. Sobre a questão da ¿Era Palocci¿ ou não, no momento em que o presidente emite um juízo, esse passa a ser o juízo do governo e de todos nós.

Tarso negou que tenha levado um puxão de orelhas:

¿ Não levei bronca nenhuma, mas talvez até merecesse. Não há nenhum constrangimento. A linha do presidente ficou clara: discutir daqui para diante a questão da retomada de um crescimento forte com distribuição de renda e buscar um crescimento mínimo de 5%.

Tarso: ¿Meirelles disse uma coisa muito sábia¿

O ministro elogiou a entrevista de Meirelles ao jornal ¿Estado de São Paulo¿:

¿ O Meirelles disse uma coisa muito sábia: a baixa da inflação foi um elemento de popularidade do governo. Concordo integralmente. Todos sentimos nas ruas que a baixa inflação valorizou a Bolsa e o bolso do trabalhador.

Tarso negou divergências no governo sobre a manutenção da rigidez fiscal, ressaltando que o que se discute é a metodologia.

¿ Nunca defendi nenhuma flexibilidade fiscal, nenhum relaxamento nas contas públicas. O presidente tem dito que vai manter a rigidez fiscal, um duro controle das contas públicas. Agora, qual a metodologia é uma questão que o presidente ainda vai orientar ¿ disse.

O governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda, que almoçou ontem com Lula, defendeu a combinação de estabilidade econômica com distribuição de renda:

¿ Todo debate é bom. Toda briga deve ser banida. É preciso ter claro que o presidente da República é Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente já definiu esse rumo: é preservar a responsabilidade fiscal, é garantir a estabilidade econômica. O desafio é construir uma rima, e fazer dessa rima uma solução. Responsabilidade fiscal precisa rimar com responsabilidade social.